29.2.08

Back to Light

Não vou medir palavra nenhuma. Meu critério é simples: a que vier voa, e, não vindo, fica muda.

Perto eu sei não vou ----
estou nas alturas sem ar, sem morte
Não há dentro no alto

26.2.08

The Colds

My body is such a piece of glass. I caught a cold. The TV is on all the time in this room in an attempt to make it snugger, but television seems to desolate it more. I still don't know if not letting myself to be caught in the cage of love was a big mistake. What is clear is that it's all done.

Everything looks boring now. It's the cold.

Not even music can fade the boredom away. I put Bebel Gilberto's Momento on and slept uneasily, fearing something. Something that could burst old accusations at any moment. My nightmares are about accusations on me, exactly like in Kafka's The Trial.

When you have a cold, reading In Cold Blood is hopelessly gloomier.

22.2.08

I Loved Them Until They Loved Me

I was tender and often true
Ever a prey to coincidence
Always knew I the consequence
Always saw what the end would be
We're as Nature made us -- hence
I loved them until they loved me.

Dorothy Parker (but could easily be mine).

15.2.08

nada de muito específico

O melhor do Titatic, o filme, é o trailer, mais precisamente quando Kate e Leo estão lá no topo, na proa erguida, imensa, perdidos, à luz da lua, fodidos, sem ter o que fazer além de esperar que afundem.

Hoje eu era a pessoa morta, que na verdade é quem está viva, no meio dos vivos, que na verdade estavam mortos, numa reunião de trabalho. Retirei meus óculos para torná-los ainda mais fantasmagóricos, era preciso que eu lembrasse quem era quem. Eles falavam e riam, eles eram os outros. Não, esse furto de plot não é furto. É que tudo que acontece, já aconteceu, percebem?

11.2.08

Versos Remotos

California Raining por Madeleine Peyroux, em execução


Encontrei com ele debaixo do sol de meio dia. Chegamos juntos, vindo de lados opostos da rua e paramos ao lado de um jardim de pedras. Engraçado como nos encontramos quase sempre nessas horas assassinas.

O barulho de carros que me entontecia logo é abafado, a luz que me torpedeava a vista torna-se apenas luz. Que bela figura, ele. Como gosto de vê-lo sorrindo sem graça, o corpo ainda desengonçado. Sobre o seu jeans desbotado há uma mancha bem viva de caneta bic estourada. A mancha parece o mapa da Itália. Ele diz nunca ter prestado atenção no mapa da Itália e suspira. Ele torna-se emotivo quando estamos juntos. Ao telefone é distante e desinteressado. Agora lembro os poemas que um dia ele escreveu pra mim, umas vinte páginas manuscritas entregues por suas mãos morenas e magrelas, trêmulas. Pediu para que eu apenas lesse e jamais comentasse. Nunca os li, permanecem dentro da mesma pasta fumê pouco mais de um ano depois. Tento me arrepender por não saber o conteúdo daquelas páginas, mas não consigo. Existe um prazer em mantê-las mudas.

Ele sorri, admirado com a simetria das marcas de suor na minha camisa. Repetimos tudo bem, para perguntas e respostas, duas vezes seguidas e não sei porque estamos nervosos. Nos abraçamos, arriscando mais naturalidade. Beijo-o no pescoço, e me arrependo. Sua pele não tem o mesmo cheiro. Por que não estamos fluindo? Me pergunto enquanto olho para um cactos enorme.

O hálito dele cheirava ocre, os olhos tão mal dormidos quanto os meus. De súbito ele me agarra, como um cão desajeitado. Seu coração bate veloz e tento não pensar em mais nada. Não importa a buzina dos carros, nada importa mais do que a falha dos dentes dele aparecendo dentro do sorriso amplo. O entusiasmo dele dizendo eu consegui, nossa, eu consegui! Que reação exagerada, penso eu traindo o momento. O que não esmorece a excitação, ela cresce. Conseguiste o quê, rapaz? Quero saber dele, fingindo desinteresse como um pai convicto. Vou embora pro Rio, ele diz. O entusiasmo, o exagero, o sorriso, a excitação. Eu não entendi muito bem, mas calei, fixando a quase perfeição da Itália em miniatura.

Tarco Zan