20.12.10

tem o curso "natural" das coisas e sua força praticamente imbatível
e do outro lado, eu, e uma enorme preguiça de combater o curso natural das coisas
a vontade, na verdade, a opção no momento, é deixar.
Queria falar sobre um cd incrível, Menti pra você, de sotaque recifense arrojado: Karina Buhr. As letras e arranjos são bem interessantes. Gosto de cantar Nassíria e Najaf.

17.12.10

Eu costumava ler um pouco os contos da new yorker. Virou um hábito entrar ao menos uma vez por semana, ver se tinha algo interessante nos primeiros parágrafos e salvar a história em arquivo (porque as histórias eram retiradas quando o autor publicava em antologia ou algo assim). Os textos agora não estão mais "free of charge", a maioria estão disponíveis só para a$$inantes. Tudo bem, eu pensei, foi bom enquanto durou. Afinal, existem muitos outros meios de acessar literatura escrita em inglês. Mas dos autores que li naquele site, o que mais me interessou foi a chinesa Yiyun Li. Ela foi pros states estudar imunologia e matriculou-se num workshop de criação literária para praticar a escrita do idioma. Tornou-se escritora por acaso. Numa entrevista (aqui), ela trata de questões que por acaso tive em mente ultimamente: o que é ficção? quando não é ficção?, por exemplo.

Fiz um artigo recentemente sobre o romance O Falso Mentiroso: memórias (2004), do Silviano Santiago, e Fragmentos: memórias de uma infância 1939-1948 (1998), de Binjamin Wilkomirski. São duas obras de ficção. A primeira problematiza o gênero memorialístico, o conceito de cópia e original, dentre outras coisas. A segunda fez algo parecido, porém por meio escuso, por meio de uma farsa literária: o autor forjou para si uma identidade nova (na verdade, o cara se chama Bruno Dössekker, um professor de música) e afirmava (jurava de pés juntos) que seu livro era o registro de sua experiência traumática, quando criança, nos campos de concentração. Onde, como descobriram, ele realmente esteve, só que como turista e já adulto, muitas décadas depois.

O entrevistador pergunta a Li como ela definiria autobiografia. Ela responde com o óbvio: é a escrita sobre a vida do escritor, suas histórias de vida. E distingue que o fato de criar a partir de fatos e pessoas que a cercam, sobre o que ela ouviu falar, não está nessa categoria. Ela não conhece de antemão os fatos ou as pessoas que cria na ficção. Eles brotam de sua imaginação, apesar do ponto de partida ser algumas vezes uma impressão real. Esse modo de escrever surgiu por acaso. No começo no curso de criação literária, ela teve, meio que a contragosto, que matricular-se numa turma de escrita de não-ficção. Parecia impossível a simples idéia de escrever sobre si mesma. Porém, por não-ficção pode-se entender o mundo, sem necessariamente ser preciso tocar no aspecto biográfico. Outra coisa interessante é o modo como ela se relaciona com outros escritores, e constrói seu intertexto. Ela "conversa com escritores através da própria escrita", por exemplo, quando leu a opinião de Iris Murdoch de que amar alguém de quem você nem mesmo gosta seria algo imoral, ela pensou em escrever uma história contestando tal visão: um indivíduo, mesmo sem gostar do outro, o ama, e sob uma perspectiva moral.

Passei o semestre lendo e discutindo sobre a importância de deixar autor (e sua vida) em paz e direcionar toda atenção somente ao texto. Li, no entanto, é tão instigante que rondou agora o desejo de ir a California só pra fazer o curso de criação literária com ela, e... conhecê-la.

16.12.10

biopics

Raquel é professora de inglês em Meruoca. Tem vinte e poucos anos, guia uma bis muito concentradamente (quando a vi passando segunda-feira em frente a pousada, não ousei chamar pra não atrapalhar) e é fã de Vander Lee (que eu não sabia quem era até então e agora sei graças ao youtube). Vai embora pra São Paulo, vai casar. Deixa pra trás rios, cachoeiras (banhos), cumes, vistas, um sítio, seu trabalho, alunos, amigos, família, toda uma cidadezinha na qual ela aprendeu muita coisa (opinião minha). Ela me faz lembrar de uma personagem da Nélida Piñon cujo nome e obra já esqueci, mas que amadurecera sem precisar sair pelo mundo, encerrada no universo que então era possível. Dei a ela Flush, da Virgínia. Espero que ela goste. Desejo que a vida continue sendo boa com ela.

1.12.10

boa e velha Marianne Moore

Poesia

Eu, também, não aprecio: existem coisas muito mais importantes além
desse passatempo.
Ler, porém, com perfeito desapego, alguém
descobre nisso, um lugar para o genuíno
Mãos que podem pegar, olhos
que podem dilatar, cabelos
que podem eriçar
se assim tiver de ser...
what about dancing? descubro aos poucos qual a realidade de dançar. O movimento, a tomada do espaço, ceder espaço, o ponto g do ritmo, a entrega, o ritual, experimentei inocente, sem culpa ultimamente... 


tou super curioso por ver o filme Black Swan, do Darren Aronofsky, mesmo lendo agora a crítica desfavorável da New Yorker. Segundo a nota, a história é sobre uma bailarina dedicada (Natalie Portman) que tem como desafio mostrar que é capaz de encarnar tanto o cisne branco (pureza) quanto o negro (sedutor-devasso), dualidade presente na obra de Tchaickovsky.   Black Swan impõe à dançarina um mergulho no lado irracional e erótico (dionisíaco?) da dança. O problema do filme segundo o texto da NY foi a mão do diretor, que desandou na mistura de lirismo com morbidez. A vontade agora de ver o filme só aumentou.


Et, a nova da PJ é tão world music 
não canso de ouvir lá nos primórdios, depois de tempos
hoje o bully-teacher brincou com dois alunos que ousaram conversar no meio da aula stand-up comedy de informática (horrível). Ele disse: então, vocês são amigos de anos... e quase todo mundo deu risada.


Todos os indícios apontam que, irremediavelmente, não faço parte da turma 2.0, o povo super antenado com as redes sociais, com o mundão virtual. Sou, na melhor hipótese, 1.0. Pensei dia desses num poema da Ana Cristina que diz ser uma mulher do séc. XIX disfarçada em séc. XX e fiquei constrangido de como provavelmente meu retrocesso pode ir muito mais pra trás (ou não, suspeito que não). Bem, por isso decidi ler You Are Not a Gadget - A Manifesto, do Jaron Lanier. Na capa, que tem a forma de um palmtop (deve ser palmtop ou ipod), diz: You have to be somebody before you can share yourself. E, wow, deveras. Mas o que significa ser alguém? Ou como o autor mesmo questiona no início do livro: o que é uma pessoa? Parei a leitura na primeiras páginas e retomei outro livro, esquecido e interrompido por uma década na estante: O Mundo de Sofia...     


    

língua cortada

Quando ganhamos fala?
Ganho e perco a fala, assim, sem mais nem menos
Daí dou as costas, simplesmente
e quando treino bastante, a fala, ela sai dormente
como se nem minha fosse
não confio em regressão
Não sei porque, acho que puxaram demais o meu cabelo e o fato de eu não ter gritado na época tem relação com isso tudo
virei um oximoro
 um dito não-dito ambulante
um esforçado sem-força
completa incompletude
discreta aberração
et al
e o que mais
os cabelos caem, por isso me preparo com exercícios de grito super difíceis de realizar num lugar como esse, povoado-deserto
pois não se sabe o que será desperto
Parece ter sido ontem: tanto falei que fiquei rouco de amor
ele, um fantasma de contornos cortantes
uma faca
não é um estorvo dançar com uma lâmina entre os dentes?
tenho uma faca afiada
na boca

15.11.10

90's

Não consigo deixar de escutar esse video do Madison Avenue. Nostalgia boa. Sem falar no EBTG. Os anos 90  prometia um futuro de overdoses de housemusic e tecnô, e liberação total. A narrativa do clipe The Real Thing da Lisa Stansfield, era o próprio futuro. Pronto. A MTV mostrando diversidade e igualdade de gêneros! Três Formas de Amar no escuro do cinema. A década parecia uma prévia do que estava por vir. Havia um revival intenso da era de aquário. O Prior de Angels in America (peça de 1992) acreditava que o futuro onde todos, independentemente de orientação sexual, cor, e classe social teriam os mesmos direitos havia chegado naquele período. Enganou-se. Por outro lado, falando por mim mesmo, foi incrível ser adolescente nessa época. A descoberta do mundo e tudo mais... Onde andará Lisa? E o Luc Perry? Já deu essa sessão looking back. Como diria mi padre, sigamos em frente.

7.11.10

Sugestões

Escreva Lola Escreva: blog excelente, da Lola Aronovich, minha intelectual sista.

Sam Sparro: uma mistura de Nikka Costa e Killie Minogue, versão sexy gay boy.

1.11.10

Minhas canetas desaparecem sem mais nem menos. Desatenção? Desapego? Quando me ligo nelas, sem dar chance para colegas cleptomaníacos, ou desconhecidos próximos mãos-bobas, elas param de funcionar. Pessimismo?
Desengano: comprei velas aromáticas sem aroma. Baunilha,canela, maçã verde, quando queimam, não cheiram.
Coleciono bichos punheteiros. Um sapo, um macaco, um anão. Perguntaram-me pelos nomes. Eu disse não têm nomes. Disseram-me para pôr nomes. Eu disse eu não. Por que? Calei e mudei o assunto. Cada um com a sua. Relendo livros (na falta de sexo), escutando cds antigos (na falta de saco pra reler livros), anotando essas coisas que nem sei mais pra que servem. Um dia pensei que equilibrava o baque da metamorfose. Mas equilibra o que nem vou dizer que equilibra pra não ofender a mim mesmo. Esse ano foi um ano de cor vermelha, daí, a simbologia corriqueira dessa cor tem de ser ampliada para enquadrar o nosso caso.

27.10.10

walking on the wild side

25.10.10

O último texto da Granta em português, cujo tema é Ambição, termina como uma bomba, pelo menos para mim que no mestrado divergi da idéia de que em arte se pode tudo (poder tudo em arte é bonito, como conceito, só que o holocausto, hiroxima, e diversos outros horrores, relativizaram terminantemente essa questão pra mim) e impressionante, fui voz solitária contra se abordar apenas a "obra em si" apartada de seu contexto histórico.
Bem, após a leitura de O falso mentiroso (memórias), uma obra de ficção na realidade, do Silviano Santiago, em que o enredo pode ser lido quase como um tratado a favor da cópia, da ambigüidade, e mais interessante, da desopilação, no que se refere à fragmentação do indivíduo em vários sujeitos na atualidade - não há crise de identidade, o narrador parece muito bem resolvido com suas imprecisões - li a reportagem da Granta, O homem de duas cabeças. Trata-se da história de um verdadeiro impostor. Muito bem escrita, por sinal, por Elena Lappin, no estilo new journalism, texto jornalístico escrito com requintes literários.
O protagonista é um tal de Bruno Grosjean, professor de clarinete, que na década de 90 publicou, assinando como Binjamin Wilkomirski, suas "memórias" Fragments, memories of a childhood 1939-1948, mais um relato sobre o holocausto que alcançou grande repercussão na época. Nele, Binjamin/Bruno narra os horrores que vivenciou durante a segunda guerra. A obra recebeu condecorações de institutos da memória do holocausto em várias partes do mundo, foi objeto de documentários, e recebeu um prêmio literário nos Estados Unidos na categoria biografia.
No entanto, especialistas sobre o tema levantaram a questão sobre a autenticidade do relato biográfico, pois como dizem, se toda mentira tem perna curta, aos poucos perceberam não só lacunas e ficção na obra, como também diferentes versões orais sobre a mesma experiência a partir dos documentários. Por um lado, Binjamin/Bruno teimava que havia sobrevivido ao holocausto, apesar da pouca idade, apesar de que não há registros de crianças que sobreviveram a Auschwitz; por outro, vários sobreviventes, que não eram crianças no período, reconheceram como autênticas várias passagens do livro. Houve até mesmo o caso de um homem que perdeu o filho num campo de concentração, que também chamava-se Binjamin, e tanto o escritor de Fragments quanto esse homem "acreditaram ser pai e filho".
O fato é que Bruno Grocejan nasceu na Suiça, de origem humilde, foi adotado por uma família abastada, e além da formação musical, também cursou história. Foi quando passou a criar seu arquivo sobre o holocausto. Segundo Lappin, o embuste fictício lembra muito a própria história de Bruno.  Fora adotado, passou alguns anos num orfanato suiço. Lugar que pode lembrar a prisão reconstruída no relato ficcional/biográfico.  Suas histórias, de Bruno e Binjamin, sobre um garoto que não sabe de onde veio, não conheceu os pais, são as mesmas.
Mesmo considerando que, descoberta a farsa, o valor literário da obra distingue-se ainda mais, até que ponto podemos julgar os méritos de uma obra ficcional que foi difundida como verídica? E muito mais grave, colaborando com a idéia de que tudo não passa de ficção, como alegam os países que são hoje sufocados por Israel.

Granta, 4: ambição. Objetiva, 2009.

12.10.10

bem, eu esperava mais de os anões da verônica stigger. mas deve ser melhor na relida. no entanto o conto tailândia, do haruki mukarami, da edição granta português, da vontade de reler logo em seguida. comprei por causa da primeira frase de  um conto do verissimo, que, não sei, tem boas frases. um rabugento bom de ler: aristófanes.
falando em boas frases:
“That life may be lived more abundantly”
de um poema de ange mlinko (nice to meet you)



9.10.10

Se escuto Cat Power, lá fora os cães ladram.
A lugubridade pesa e me mato em abdominais
Quantos sobreviveram a um coco na cabeça?
Vontade de ler David Foster Wallace
Comprei ímãs pra nada
E um macaco de borracha bronheiro
Não sei o que fazer com boa idéia,
Acanho e deixo passar
Vício: dicionário eletrônico houaiss
Vício: country music
Não vicio em cigarro
Vício: imitar os filmes com finais alternativos na vida
Indicaram-me um belo terapeuta
Vício: talento violeta

30.8.10

O melhor do filme Coco Chanel & Igor Stravinsky é uma cena apoteótica bem no início, quando a peça musical e a performance dos atores é execrada pelo público. E claro, a atriz que faz a Coco, muito bonita.
***

27.8.10

A sede de aprender é grande. Experimentando a lida com fdps de ontem e de hoje. Assimilo lições só depois de chegar em casa e tomar banho. Falando em passado  no presente (li recentemente "the past is everywhere) ...
A professora de tópicos em poesia, que discorre ininterruptamente, como o Lucky do Beckett quando em transe, sobre Os Acarnenses, Aristófanes, e todos os autores gregos antigos, ilustra bem um verbo inglês que não conheço tradução: giggle, uma risadinha onipresente, tique nervoso. Ela mostra, através de um conhecimento impressionante sobre cultura clássica, entrecortado por "giggles" constantes, que o mundo é o mesmo e só mudaram as gentes. Minha impressão de que nada mudou talvez venha da crença na evolução do homem, e ver tanta semelhança entre presente e passado enfraquece a idéia de grandes mudanças. Vou ler Platão somente agora. E Aristófanes, que nem sabia ter existido.
 
Acordar cedo e ouvir o Dear Sir da CatPower da vontade de ir a praia e pegar sol e cheirar o mar.
Graças, aula da tarde confirmada. Tava desnorte. Bem, um colega mandou email descrevendo a típica trilha sonora de uma carreira acadêmica. Hip-hop no doutorado. Pô, me antecipei em anos ouvindo fugees fanaticamente quando ainda tava na escola...
O que significa o riso?

8.8.10

Livros e discos


Er - Livro: comecei ontem a ler um livro com a transcrição das transmissões do programa que E. M. Forster teve na BBC. Chama-se The BBC Talks of E. M. Forster: 1929 - 1960 A Selected Edition. Forster era muito engraçado. Aquele tipo de graça que parece não intencional, mas que na verdade é bem arquitetada, como qualquer boa criação literária.

Num dos programas ele apresentou a conversa que teve com um policial. A conversa, claro, é criação dele. No fim do texto, eu soube que na realidade vários escritores na época receberam a encomenda de produzir textos para a série "Conversations in Train". Parecido com a série de romances que a Cia das Letras publicou com escritores contemporâneos e suas histórias em diferentes cidades do mundo.

O diálogo com o policial foi apresentado na época, na BBC, pelo próprio Forster e por Bob Buckingham, o amante de Forster que de fato era policial e homem casado. Forster cria falas espirituosas para ele mesmo, brincando com a idéia de repressão que a profissão de Bob passa para as pessoas comuns, como o próprio Forster. Primeiro ele diz que todo mundo tem medo da policiais. Esse medo vem, segundo ele, do inconsciente coletivo, porque todo mundo carrega algum traço, em maior ou menor escala, de culpa. O policial rebate dizendo que seu papel não tem nada a ver com repressão e sim prevenção, para que pessoas como ele, Forster, consigam levar suas vidas adiante, protegidos. A relação polícia vs. punição é o tempo todo colocada por Forster e amenizada por Bob, sendo que o diálogo flui como um verdadeiro flerte entre os dois. Quando Bob fala do quanto precisou ler sobre leis e jiu-jitsu para prestar uma prova e conseguir promoção, Forster se diz espantado. Ele pensava que bastava prender pessoas.

Disco: Swim, do Caribou. Bem feito, criativo, sexy.

29.7.10

Sensação de incerteza, dúvida não sei de quê, tipo quando não sei se realmente acordei ou ainda sonho. Tenho motivos. Não sei se ganhei na loteria ou perdi. Tinha que ser numa quinta-feira. Melhor dia pra mim desde quando eu era preenchido.

Limpando livros, catalogando, dando uma olhadinha neles, e ouvindo o maravilhoso Mellon Collie and the Infinite Sadness.

Ganhei de presente faz tempo uma antologia, Poesia Moderna Russa, com reescrita dos irmãos Campos e Boris Schnaiderman. Abri num poema que gostei bastante, combinando com essa quinta de faxina transcendental:

Uma vez mais, uma vez mais
Sou para você
Uma estrela
Ai do marujo que tomar
O ângulo errado de marear
Por uma estrela:
Ele se despedaçará nas rochas,
Nos bancos sob o mar.
Ai de você por tomar
O ângulo errado de amar
Comigo: você
Vai se despedaçar nas rochas
E as rochas hão de rir
Por fim
Como você riu de mim

1919-1921

Vielimir Khlébnikov (1885-1922)
Tradução de Augusto de Campos

Fosse antigamente, teria me livrado dessa antologia fantástica pra jogar fora simbolicamente quem me deu. Agora não mais. Será que isso é amadurecimento?

Outro livro de poemas que abri inadvertidamente e certeiro pra essa quinta é do grande Walt Whitman:
Juventude não é o que tem a ver
comigo, delicadeza tampouco...

me entusiasmei e pus no twitter - que ainda não sei usar.

28.7.10


Chocado. Alexandre Dumas tinha gente escrevendo romances pra ele. Ouvi o termo escritor-escravo no programa Entrelinhas, que exibiu matéria sobre o caso. Parece que apesar de tabu, é prática comum na indústria livreira e está virando assunto recorrente, pelo menos no cinema. Ghost-writer, por exemplo, novo filme do Polanski. E outros que tenho preguiça de buscar na memória. No filme do Polanski, Ewan-fetiche-MacGregor faz o verdadeiro escritor por trás do escritor fake. Interessante, o mesmo ator
fez papel de livro anteriormente, em Livro de Cabeceira. Por falar em antropomorfização de objetos - imagem recorrente em algumas narrativas de agora - tomei conhecimento hoje de uma cartunista-escritora, Gabrielle Bell. Em Cecil and Jordan in New York, uma jovem sente-se muito, muito inútil, e acaba se transformando numa cadeira. Esse quadrinho de Gabrielle foi adaptado para o cinema e compõe um dos curtas de Tokyo, que está em cartaz no momento. Gabrielle já ilustrou poemas de Emily Dickinson, como o trecho acima.

23.7.10

Tive a impressão de que um eclipe estava para acontecer hoje a tarde. O céu tava encoberto, mas a lua e o sol estavam próximos, depois das 15h. Eu tava comprando coisinhas na Gomes de Matos. Dias de muita televisão, glee, e fogão.

20.7.10

Encontro Explosivo com Tom Cruise é bem bom, gostei. Apesar de que gosto mais de Daniel Craig ou Angelina Jolie nesse tipo de filme. Cruise tá com os peitos meio murchos, ou sempre foi assim, ou é malhação tardia, não sei. Fiquei preocupado com os meus, parte do corpo importante pra mim no espelho.
Existe uma espécie de cliché na trilha sonora quando a Cameron aparece em algum filme. Algum hit do passado bacaninha e "up" toca.
Engraçado. Li agora no wikipedia, pra ver o título desse filme em inglês, que Cruise foi sacaneado pelo baba da igreja dele, cientologista, algo assim. Cruise confessava muita coisa na confiança e o cara, David Miscavige, gravava. Depois de um ano David ficou com peso e parou. Mas acabou postando num blog o recado veneno: "acorda Tom! Não é tarde demais mas o tempo tá passando." Isso reforça meu feeling: bitchcism all over. Não confio nem em terapeuta, quanto mais.
It's human nature: o "medo" (who knows?) de Tom. Assim como a sacanagem do baba.
Tou in luv com Sue Sylvester.

15.7.10

Ouvindo cds antigos. Não tão antigos mas que faz tempo não ouço: Get behind me satan, white stripes, por exemplo. Parece que o tempo apura. Barulho bom.
Era pra eu dizer isso no twitter mas inda nao sei dizer lá: vi um bate-boca rápido na Borges de Melo. Uma doida buzinou pra uma hilux lenta, que de birra parou uns 6 segundos, depois seguiu. A mulher baixou a janela e gritou aprende a dirigir arrombado! Depois um cara baixinho barrigudo saiu do carro e disse pra mim, depois, quando morre...
O que é isso, eu pensei, L. A.? Mundo ficando muito o mesmo.

14.7.10

Vi um filme sueco horroroso, Patrick 1.5. Como queer movie, consegue ser pior do que o israelense A Bolha. Muito pior. Não vou nem pontuar. Digo apenas que o personagem mais chato do filme tem cópia ambulante que mora na cidade de Limoeiro.
Não paro de escutar um disco sueco maravilhoso, Body Talk Pt. 1. Música eletrônica da boa, letras bem resolvidas e poderosas na voz de Robyn, que eu conhecia de uma colaboração com Basement Jaxx. Links links links

Ontem vi o programa da Ana M. Braga sobre espiritismo. Entendo tudo aquilo, no sentido amplo, e vou aceitar os convites para ver in loco como é a coisa toda. Mas sempre encontro brechas pra alimentar meu ceticismo. Por exemplo, o médium mencionou a viagem que uma moça desencarnada havia feito pros E.U. antes de morrer. Pensei, será que é difícil acertar que uma paulistana classe média de 21 anos tenha feito viagem pros E. U.? Se não for o caso de acertar o óbvio ou algo próximo disso, também acredito que há seres com a capacidade de "captar" as coisas. O que não implica ser prova da existência de um mundo paralelo. E na maioria das cartas mostradas no programa, os espíritos dizem que estão bem, num lugar ótimo. Aqueles que mencionam que quase desencarnaram, como a própria apresentadora, falam que a experiência fez com que se tornassem pessoas melhores. Na minha cabeça eu entendo que se o lado de lá é esse oásis em que todos ficam bem, eu vou mais é avacalhar no lado de cá... - tentei brigar semana passada no music box mas ninguém reagiu. Só uma sapata bêbada que nem conseguia abrir os olhos. - Enfim, sou incrédulo mas curioso. Seria preciso muitas encarnações pra minha evolução. Na verdade eu só queria fazer o que quero fazer nessa vida e foda-se se tudo não passar disso, dessa vida.

9.7.10

Aprendi alguma coisa sobre televisão ontem. Passei o dia vendo o caso do goleiro e da Eliza. Pensei em Poe, mas quase imediatamente percebi que não tinha nada a ver. Em seguida lembrei de A Sangue Frio do Capote. Esse livro, não era pra eu ter lido. Não é ficção, mas foi posto na prateleira literária, e acaba como um tipo de emboscada. Lê-lo foi como entrar sem saber em Chernobyl. Me fudi, de alguma forma. Perdi alguma coisa. O noticiário sobre o caso, assim como outros motes reais recentes, lembra o romance de Capote, mas é outra relação apressada, que no final não cola.

Nem sei como explicar isso: A Sangue Frio lembra a narrativa que a TV constrói a partir de determinada barbárie, por causa do elo jornalístico, temática medonha etc. Mas o livro do Capote tem uma gravidade que desequilibra as coisas nele, e desarranja o de fora, ou seja, eu-leitor. Já o folhetim de horrores do noticiário carrega uma essência de As Mil e Uma Noites, que no contexto televisivo fascina tanto quanto Sherazade. Eu quis desligar a televisão várias vezes e não conseguia. E nem era a história em si que chamava a atenção, mas a maneira como era contada. Os autores - são vários para uma história só - fuçam a pre-existência dos fatos para mostrar aos poucos, aproveitando ao máximo qualquer elemento que sirva de coringa para segurar a atenção do leitor-espectador. Eu queria pensar melhor sobre isso agora mas não dá. Em outra ocasião peso esses feelings com calma.

Mas falando em TV, ontem vi uma cena inusitada, cômico-desconcertante, bem comum em coisas como Os Simpsons, Família da Pesada... O programa é o login, uma dessas compotas de pêssego da TV cultura. O apresentador, um desses rostos ex-malhação, foi posto no ar agarrando outro - sem camisa, cabelo rasta, bonitão. O rasta vestiu a camisa rápido e saiu de cena. O ex-malhação ficou com cara de bunda e gruniu lá qualquer coisa pra colega dele. Ele disse algo como que o namorado rasta dele era o contra-regras, ou não. Deve tá no utube. O programa terminou com o apresentador constrangedoramente tentanto salvar a virilidade, avisando que o tema no dia seguinte seria "mulheres". Yes!, fez o coitado pra câmera.

7.7.10

Reli Missa do Galo do Machado. Lembrei imediatamente de uma das cenas mais marcantes do filme O Curioso Caso de Benjamin Button, em que Tilda Swinton e Brad Pitt conversam de madrugada, num hotel, na penumbra, num clima de camaradagem erótica - não sei explicar mas foi assim que eu senti. O conto do Machado é isso, não tem muito do que se espera de um conto, apenas a pintura, o registro de um momento. É o tipo de conto com que mais conecto.

5.7.10

Livro com trilha sonora

JJ é um dos persoangens de A Long Way Down, do Nick Hornby. É um dos quatro suicidas que se encontram por acaso no topo de um prédio de Londres numa noite de reveillon. Dos quatro, ele parece o mais hesitante em assumir o motivo que o levou a decidir acabar com a própria vida: sua banda de rock não aconteceu, e ao invés da fama, tornou-se entregador de pizza, já que ser um rock-star foi uma aposta no tudo ou nada (largou a escola para seguir carreira na música). Ele não tem coragem de revelar a verdade de cara, daí mente dizendo que tem pouco tempo de vida, tem uma doença chamada CCR. Ele pegou a sigla de uma de suas bandas favoritas, Creedence Clearwater Revival. Imediatamente busquei a banda e é o que estou ouvindo. Peguei uma coletânea, e é de arrepiar. Tem coisas que lembram Elvis, Cash, já outras são psicodélicas. Deve ter algo a ver com a longevidade da banda. Não conheço ainda nada da história deles. Uma faixa é bastante conhecida: "Have you ever seen the rain". Me fez lembrar de um grande amigo. Outra faixa, mais blues, me trouxe a lembrança de outro, também da melhor época da adolescência. Esse eu reencontrei um dia desses na Treze de maio e foi aquela situação fria-blasé-acanhada. Eu entendo. É estranho encontrar um conhecido que depois de tanto tempo voltou a tornar-se um estranho. Bem, uma das coisas que gosto do Hornby é a sintonia, a antena pra um tipo de cultura e comportamento particular mas sem fronteira geográfica. JJ poderia muito bem ser o antigo amigo que me estranhou na rua, e vice-versa. Life's bigger, though. E falta eu terminar o livro. Ouvir o disco mais vezes. Traçar planos bs.

12.5.10

random note

I am a lazy boy I am. Even in my private journal there's been a gap, a long silence. My job now is just studying and as usual I'm overreacting. Though in my age I know perfectly the thing about balance and so.
So many plans... my short-stories are stuck but I'm gradually returning and want, hysterically want to publish this year. Talking about shit, yesterday I was in a kind of very informal speech of a non-published writer, whose influences are Amyr Klink, Paulo Coelho, and Guns 'n Roses. She showed her stuff, notebooks, diaries, books, and talked about her process in such a low-prof way that I almost cried. Zero vanity and lots of guts to show her ass that way. Well, her name is Fernanda and she writes here.
One more time I think of balancing. I'm not showing my hairy ass the way she did, but I need at least to shave it and show it and see what happens.
Today I told my whole adult life story to a brand new friend in just 10 minutes. Then I realized that I really need to do something about it, I mean, think more carefully about biography stuff. Of course, not in a showing-off, artificial sense, but in one having in mind the time factor, joy (with people) in the meantime, and death. And according to Marx, this is a contradiction since men do their own history, but don't know they do.

14.4.10

On Beauties

I'm so having a good time researching and writing papers for the mastering course. It's much easier when you're required. I now understand those courses common in the u.s. made for writer aspirants and that cause discomfort to some aspirants here because of the humbling aspect of showing the need for help.
The more I read Zadie Smith's On Beauty the more I get curious about the author as a person (like me). My readings on the idea of the author's death, the different persona created by the author (person) to manipulate artfully its material, doesn't get me. For me, it's just a complex person like everybody else facing the world with their crafty perception, intelligence and, why not, imagination. I'm really into Smith, and there are some personal reasons for that.
Yesterday I had a good coffee and chocolate time with a girlmate from the mastering. Talks, flirting puzzles, and so on. I'd better definitely tell her I'm just a weirdo curious gay guy that fancies having affair with women to understand better what's it like, and possibly write about it, or that I'm one of those movielike embodiments of fables like that Andersen's Ugly Duckling. Of course, I don't mean it by the fable message itself but because of the troubles that come with being among totally diferent types. I don't even know what I want to say anymore. Stop it me!
I'm listening to Legião Urbana records. It's good soundtrack for sunny beautiful afternoons like today.

13.3.10

"It's so much simpler to be hurt than to hurt."
S. Beckett


Reafirmo isso.

7.3.10

Dickinson

Fui até a janela fumar e decidir: sair ou não sair? Calor, sábado, cabelo cortado, nenhum plano, meia noite, 1 2 3... e abro um caderno, vejo um poema de E. Dickinson que transcrevi e que gosto muito.
(Emily quase nunca saía de casa.)
No poema ela questiona sobre a real existência da manhã, como se ela (a voz) estivesse trancafiada dentro da noite. Assim como Actor, disco de St. Vincent, esse poema, Will there really be a morning? tem uma coisa filme Disney. Lindo exuberante e assustador.
Eu traduzi! Tive de deslocar efeitos, e forçar a barra como "tão alto quanto" no original por "mesma simetria", mas está ficando do meu agrado. Talvez eu o leia em homenagem às mulheres próxima sexta numa ong numa rua chamada Alerta.
Outra coisa. Durante a tradução fiquei sabendo que o dente do siso em inglês se chama wisdom tooth, ou seja, os ingleses pegaram do latim.

28.1.10

estou em clima de adeus a quixadá. um lugar até perto, 168 km, mas muito outro. não explorei o que gostaria de fato. esperava ficar mais tempo trabalhando por aqui e conhecer mais lugares. mas nessa vida, realmente tudo pode mudar num virar de página. os arredores supreende, é bonito, perfeito para ciclismo, sendo possível parar num lugar ermo e se deixar ficar, sozinho. dificilmente aparece alguém importunando.
acredito não ter mencionado um filme dinamarquês que gostei muito, a festa de babete. a história original é da karen blixen. o filme é alegoria da escritora para o espírito artístico. e agora mato um tempinho antes de ir ao baile da rosinha, em quixadá. rosângela e o marido, talvez por falta de ambição de ser, são dessas pessoas que inspiram a gente.
passei em casa só pra pegar roupa e vir prestigiar. chegadas e partidas rápidas nas últimas 24 horas. canseira. o pôr do sol vermelho pela janela do ônibus e na mochila meu chapéu de pierrô.

23.1.10

novela das oito, personagem da maria luiza mendonça: "minhas amigas estão sempre com problemas com marido, namorado, sou a única cujo único compromisso é comigo mesma... passo muito tempo sozinha..."
noto que ela fala como eu depois de umas cervejas, arrítmica.
o personagem da malu mendonça divaga sobre cama > teatro enquanto o acompanhante dela, jovem e classy, fala da decoração do ap inspirada em paris. ele enche taças de vinho branco/rosa ao som de carla bruni. manoel carlos caminha para um gênero dentro de um gênero?
coincidência: tou indo ver "up in the air" ou "amor sem escalas".

11.1.10

ida ao trabalho, houve acidente na estrada. mulher no asfalto, alguem tentava ajudar de alguma forma segurando o braço dela. estava de capacete e consciente.

comprei bis numa farmacia assim que cheguei. a maioria das lojas e mercearias de quixa nao possui ar-refrigerado. esqueci desse detalhe e depois do gosto estranho do bis (+ experiencia anterior em madrugada-horror no cine sao luiz) fiquei esperando a dor, mas ficou no mal-estar.
noite fria no sertão.
mal-estar.

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9.1.10

em apenas uma semana voltei a subir numa bicicleta e jogar basquete depois de tempos. a bike emprestada de amiga de amigo em quixa. trilhas, cenário bonito, jurassic park, casinhas de barro, algumas bem bonitas com jardim. casal de estudantes amigos de amigo fizeram taichichuam de frente pro açude enquanto eu fiquei de olho no sol encostando no paredão de pedra da galinha choca.
o casal do taichichuan tinha suco de maracujá no cesto da bike e ofereceu. chatos.
na volta, papo sobre boa forma. constrangimento no ar sobre a real razão de emagrecer. o óbvio: ficar minimamente "bedable"! mas ninguém assume. falta intimidade ainda.

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