Aprendi alguma coisa sobre televisão ontem. Passei o dia vendo o caso do goleiro e da Eliza. Pensei em Poe, mas quase imediatamente percebi que não tinha nada a ver. Em seguida lembrei de A Sangue Frio do Capote. Esse livro, não era pra eu ter lido. Não é ficção, mas foi posto na prateleira literária, e acaba como um tipo de emboscada. Lê-lo foi como entrar sem saber em Chernobyl. Me fudi, de alguma forma. Perdi alguma coisa. O noticiário sobre o caso, assim como outros motes reais recentes, lembra o romance de Capote, mas é outra relação apressada, que no final não cola.
Nem sei como explicar isso: A Sangue Frio lembra a narrativa que a TV constrói a partir de determinada barbárie, por causa do elo jornalístico, temática medonha etc. Mas o livro do Capote tem uma gravidade que desequilibra as coisas nele, e desarranja o de fora, ou seja, eu-leitor. Já o folhetim de horrores do noticiário carrega uma essência de As Mil e Uma Noites, que no contexto televisivo fascina tanto quanto Sherazade. Eu quis desligar a televisão várias vezes e não conseguia. E nem era a história em si que chamava a atenção, mas a maneira como era contada. Os autores - são vários para uma história só - fuçam a pre-existência dos fatos para mostrar aos poucos, aproveitando ao máximo qualquer elemento que sirva de coringa para segurar a atenção do leitor-espectador. Eu queria pensar melhor sobre isso agora mas não dá. Em outra ocasião peso esses feelings com calma.
Mas falando em TV, ontem vi uma cena inusitada, cômico-desconcertante, bem comum em coisas como Os Simpsons, Família da Pesada... O programa é o login, uma dessas compotas de pêssego da TV cultura. O apresentador, um desses rostos ex-malhação, foi posto no ar agarrando outro - sem camisa, cabelo rasta, bonitão. O rasta vestiu a camisa rápido e saiu de cena. O ex-malhação ficou com cara de bunda e gruniu lá qualquer coisa pra colega dele. Ele disse algo como que o namorado rasta dele era o contra-regras, ou não. Deve tá no utube. O programa terminou com o apresentador constrangedoramente tentanto salvar a virilidade, avisando que o tema no dia seguinte seria "mulheres". Yes!, fez o coitado pra câmera.
9.7.10
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