27.9.11


pouca mobília passa a impressão de mais espaço ou de que o espaço é maior do que de fato é. um quarto vazio, no entanto, parece menor. ilusão de ótica?
espaço vazio: desafio; do nada, possibilidades infinitas.

20.9.11

a mulher das vitaminas na rua josé gentil disse ontem, depois de elogiar muito um cão hiper peludo (de lacinho) e sua famlía, que pararam em frente pra dar tchau, que adorava bichos, mas longe dela. uma cliente se espantou e disse, sério? eu prefiro bichos mil vezes mais do que gente. a mulher - das minhas - respondeu que apesar de tudo, preferia gente, fazer o que?

16.9.11

Gostaria de meditar sobre essa sensação agora, de abrir um livro comprado, faz muito tempo, possivelmente em sebo - não lembro realmente como adquiri alguns dele - e dar de cara com uma dedicatória, rabiscada mal-ajambradamente para outra pessoa.
Não consigo nem lamentar o fato do livro dado ter sido "rejeitado" ou perdido tamanha a emoção + estranhamento + adrenalina de estar me intrometendo na vida alheia... rabiscos garrafais.

15.9.11

personagens-vulgaridade
alguns metros quadrados - janela - cama - mesa - poltrona - papel - canetas. livros!
menino flanelinha  não quis torta de chocolate
máquina de coca-cola recusou todas as notas de 2 reais
paguei passagem de ônibus pra pedinte tatuado
jorro: SMSs

9.9.11

Just Kids, da Patti Smith, até o momento, é como a versão Anos Incríveis da irmã hippie do Kevin Arnold contada por ela mesma.

Muita gente lendo Stieg Larsson.

Ouvindo Supremes e percebendo como elas têm sido sampleadas.

Raimundo dos queijos. 

7.9.11

Now I'm teaching poetry and, at this exact point, William Carlos Williams. Although he is not one of my favorites, I really love this poem:


This is just to say


I have eaten
the plums
that were in
the icebox


and which
you were probably
saving
for breakfast


Forgive me
they were delicious
so sweet
and so cold.


Students were asked to write a parody out of it. The author of the material I'm working with was inspired by parodies like this: http://somewhereinthesuburbs.wordpress.com/2008/04/21/this-is-just-to-say/


I did my own to inspire students:



This is just to say

I care less
each day
about the plums
you ate

the fancy
poem you made
out of that
is delicious

there is also
no regret
in having left
that icebox with you 

it was relaxing after a productive and tiring day.

6.9.11

Controle: quando nada dá certo, reconheça os limites, aceite o mundo como ele é, ou ao menos o ignore, mande tudo pra casa do caralho, relaxe, ouse puxar conversa com um desconhecido e se deixe levar. se possível até a livraria mais próxima e compre de uma vez por todas aquele livro que você adia a leitura desde que foi publicado porque estava ocupado tentando chegar em algum lugar subtraindo metade de si no meio do caminho. Foda-se. O livro é Just Kids, Patti Smith.

30.8.11

Back to classes, teaching Hemingway in a smalltown, up in the mountains, north of state. This place reminds me of nicaragua or costa rica and i don't know why because i've never been in such places. Maybe it's because of the green bright tropical landscape up here, totally different from the scenery down in arid, hot sobral surroundings. 
Hills like white elephants, the story we read yesterday night, has this coincidental setting. Just that, as i have pointed out, the hills around here are green. And when we are coming up, in a shabby wagon adapted with wood seats in the back to transport as much people as it is possible, there is a fantastic smell of bush, or wood, i don't know exactly what it is, nor people who i have asked know which smell it is. I think it is cedar, it feels like cedar perfume my brother used to wear.
Teaching English Literature to people who barely know the language is a pain, but money talks. As always i get moved with students. Their trying to overcome obstacles, canyons, to be there and get something with their courses. They are simple, sincere and nice. I'll post some photos of the school later. It's an old building. By the road there's a house dating from 1927, it is marked on its front.
It's funny the difference of behavior if one compares average people here and from my own city. Fortaleza is large and so but most of people there are from places like this, in the countryside, like my parents. Here, the nice, affectionate approach is part of the social code. Whereas in Fortaleza, it is not like this anymore.
There is an eating arena, made of three tiny restaurants. Solange, the owner of the one I always go, welcomes me warmfully and calls me professor. She served me meat covered with mashed potatoes, that was delicious. Low job people that go there always nod to outsiders like myself. Civil servants or any other chump with a good position fakes noticing others around, just like in my town.
I read some stories from Gilberto Noll's A Maquina de Ser, after lunch. Yeah, I'm liking it. I like the oddness this author seems to like. Stories are really short, like a fragment or a sophisticated summary for real short-stories... them feel a little awkward, and good.
While still there I noticed a pretty gay kid wearing lilac pants and golden yellow shirt. He seemed too young even for the thought of flirting. He's already fag voiced, and likes to be the spot. It's the second gay emo kid I find here... wait, he could be my Cadmo... No, i'll never satisfy with just contemplating as the man in Mann's novel. The lilac pants boy closed down the shop he was and went away with some girls. He was carrying some Clarice Lispector book. 
Today I will use this video for discussion:




28.8.11

beloved Whitman


Agonies are one of my changes of garments,
I do not ask the wounded person how he feels, I myself become
the wounded person,
My hurts turn livid upon me as I lean on a cane and observe.

23.8.11

sobre a promiscuidade: "descoberta do novo, criatividade" - Tim Dean, Bareback Sex - Unlimited Intimacy.
"death is the only good of which death cannot cheat us, once we have begun to live sexually. To die after a year of sexual happiness is no sadder than to die after thirty years of it" - Susan Sontag - Reborn

sobre a tradução: "It's better to have a live sparrow than a stuffed eagle" - Edward Fitzgerald. Ou seja, melhor o texto traduzido que pareça vivo, presente. Evitar recriar o texto com arcaísmos, etc.

na cabeceira: um panorama visto da ponte (a view from the bridge) - Arthur Miller. tradução: José Rubens Siqueira. Apesar do título ter ficado esquisito em português, o texto flui rápido e bem. Conservaram no corpo do texto a letra original de uma música, "Paper Doll", que começa assim: "I'll tell you boys it's tough to be alone".

É cantada por um personagem italiano louro, bonito e faminto, Rodolpho, que vai se abrigar numa favela próxima das docas de nova iorque. O pobre no centro do drama contemporâneo > Arthur Miller.

Alemão é tão difícil quanto islandês e polonês, mais difícil que romeno, inglês e as línguas latinas porém mais fácil do que o árabe e o mandarim, por exemplo. Numa escala de dificuldade de 1 a 6 para nativos de português, o alemão está em 3. Na posição 6 fica o !xóõ, falado por 2 mil pessoas em Botsuana. No segundo semestre de alemão, uma dúvida persiste: a grosseria é um traço cultural importado pelos professores ou seria um aspecto inato, cearense mesmo? Eu e Lucíola Limaverde ainda não formamos opinião.

18.8.11

Até agora o que mais gosto em estudar alemão é ter que estudar.

Uma amiga me deu Billy Collins e retribui com Wit, do Mike Nichols. Ficou a cara de quem só curte dark sides. Mas o legal de Wit é que o teatro no vídeo parece viável. Sem falar na aparição de Harold Pinter como o pai de Emma Thompson. Pareceu desproporcional ficar com Billy Collins que é light, gostoso de ler e dar de volta uma boa atuação sobre a morte. Mas pensei só na performance, na imagem do Pinter, no teatro na tela, na mulher especialista em morte na poesia, morrendo de câncer, sendo tratada por um ex-aluno que virou um médico tão competente e profissional quanto ela foi, só que cego para o que está fora de sua atuação, como o sofrimento físico dela. Do mesmo modo como ela foi um dia - pelo menos com um de seus alunos. M. Cunningham cita essa espécie de dia da caça com G. Stein na abertura de Laços de Sangue.

Wit, As Invasões Bárbaras - carreira acadêmica - doença terminal - expiação - morte.

1.8.11

Sinto que este Hawthorne infundiu sementes em minha alma. Ele expande-se e aprofunda-se na medida em que o contemplo; cada vez mais, enterra sua raízes fortes da Nova Inglaterra no solo quente de minha terra do sul.

Herman Melville sobre o seu (crush) amigo Nathaniel Hawthorne


23.7.11

Amy Winehouse fez parte de um momento difícil e especial pra mim, em 2007/2008. Algumas músicas de Back to Black combinavam com aquele momento de fim de relação, como my tears dry on their own e também com uma espécie de grito de liberdade como addicted (I'm my own man...). Depois disso, a falta de continuidade no trabalho e, principalmente, a exposição massiva de seus problemas pessoais transformaram-na, pra mim, na voz, na trilha sonora daquele tempo de rearranjo. E só.

Hoje, a notícia da morte de Amy me chocou. E ainda estou tentando entender isso de uma pessoa que, de tão distante, poderia ser considerada o equivalente de uma personagem de ficção, já que a conhecemos por meros recortes da mídia, ser capaz de despertar um sentimento de pesar como esse (do mesmo modo que as mortes de River Phoenix, Cássia Eller, Heath Ledger e Corey Haim, dentre os que lembro agora). Um primo distante, de quem só recentemente eu soube da existência, sofreu um grave acidente e se encontra no segundo mês de coma. A notícia sobre esse parente não causou estupefação como essa morte. Afinal, dele eu não conhecia nada. Quanto a Amy, eu ao menos conhecia e admirava suas músicas. Isso explica alguma coisa. Mas essa morte era tão provável que chegaram até mesmo a recriar uma réplica da cantora, morta com um tiro na cabeça:


Lamentável. Mas, ano novo, novas trilhas (sonoras). Hoje, sábado, por exemplo, é dia de 




22.7.11

"I AM VIRGINIA WOOLF"

As everybody knows, the fascination of reading biographies is irresistible. V. Woolf em "I AM CHRISTINA ROSSETTI".

20.7.11

Nota de Sontag em 18/11/56: Marriage is based on the principle of inertia. Confirmo isso por empirismo. Preciso de ciclos. Meu álibi: "ter nascido ávido".
---

19.7.11

Bowie

Nosso passado a gente inventa. Cada vez mais me convenço disso. Acho até que isso tem a ver com o prazer em ler e criar histórias. Prazer de ver retalhos de imagens, sonhos e experiências diversas tão bem costurados que parecem refletir nossa própria experiência. Autêntica e inventada. Penso agora na imagem do passado que alguns artistas tentam passar e que não correspondem com o relato de pessoas que conviveram com el@s. A Lady Gaga é um exemplo rasteiro, até porque é bem recente. Mas já soube que ela procura passar a ideia de que sempre foi freak e na escola sofria bullying por ser esquisitona. Colegas do seu tempo dizem outra coisa: ela era bem comum, popular até, bem average. Ela rebate dizendo que esses que a contradizem foram exatamente os seus carrascos.

E agora soube que o Bowie também tem disso de ficcionalizar a vida. A maneira como ele descrevia a família (nutty) parece apontar pra um tipo de explicação pro jeito excêntrico dele de ser. Na realidade, segundo uma nova biografia (David Bowie: Starman - Paul Trinka), Bowie era um tipo de aluno comum, inteligente e educado.

Gosto de ler biografias. Apesar do trabalho de pesquisa, muitas vezes penoso, é o tipo de texto que entra na arena da narrativa, do distanciamento, e, inevitavelmente, da invenção. Quando bom, um texto biográfico é ótima literatura. O fato é que o artista quer que tudo vire arte (lou@s e lúcid@s). Isso é o que me atrai nas bios. Por exemplo, Bowie tinha um meio-irmão, Terry. Ele realmente tinha problemas mentais e se matou em 1985 (pôs a cabeça sobre a linha do trem). Com essa passagem trágica de sua vida, Bowie fez Jump They Say, música fantástica:

18.7.11

Tentei ouvir e transcrever as músicas desse disco do Pearl Jam, Ten, o primeiro deles. Desisti porque o som me fez lembrar de muita coisa. A década de 90, que, por sincronia, revivo através de cheiros, discos, youtube e simples buscas por pessoas da época no facebook.
A pessoa mais marcante desse tempo morreu faz uns anos. Ele se chamava Jeroan, e dele tenho as melhores lembranças que se possa ter de uma amizade intensa e transformadora. A gente ouvia muita coisa (rádio, K7 no máximo) e conhecia alguns clipes dessa banda. Depois de ler artigos sobre as bandas de Seattle, tenho uma dimensão melhor da palavra zeitgeist. Mesmo sem fazer ideia do que era ou significava grunge, eu e o Jeroan tivemos essa atmosfera como background.   Ele vinha aqui em casa, eu ia com ele pra dele, todo dia, várias vezes ao dia. Pra fazer nada, além de ficar de bobeira. E o mundo preocupado com tanta amizade, tanta inquietação e desligamento do resto. O tempo, a sensação de homelessness, que agora escuto nas músicas do PJ, ajuda a montar parte dessa história. Que ficou comigo.

17.7.11

Ruptura


Usine à Horta de Ebro é o nome desse quadro de Picasso. A análise dessa obra feita por Martine Joly apresenta  Usine como exemplo do espírito da época (início sec. XX), quando os artistas demonstravam grande confiança na força expressiva da forma (Joyce) - Forster é hostil à amorfia do romance - e rompiam com a representação tradicional, o que repercutiu sobre a representação temporal: a sucessão no tempo (antes, durante e depois) cede lugar para vários "instantâneos", muitos ângulos e muitos momentos de visão no mesmo plano; abre-se espaço para a simultaneidade. Isso tudo me fez lembrar de Meia-Noite em Paris, do Woody Allen, filme que dialoga (brinca) com essa visão da arte vanguardista.

Próxima parada, Eve Sedgwick.    

28.6.11

Há que estar embriagado. Tudo está nisto: é a única questão. Para não sentir o
terrível fardo do Tempo que lhes dilacera os ombros e os encurva para a terra, embriagar-se sem cessar é preciso.
Mas de que? De vinho, poesia ou virtude, a escolha é sua.
Mas embriaguem-se.

Charles Baudelaire


Lendo Ciro Colares, o livro da Lucíola Limaverde, dei de cara com essa sincronia.

15.6.11

Pillow book

Li Pornopopeia e depois do entusiasmo inicial fiquei com a sensação de que eu esperava mais misturada à de que na verdade eu não esperava nada e o livro é simplesmente excitante + cansativo como qualquer video porno...

Agora, Reborn - S. Sontag.
How much of homosexuality is narcissism? Ela questiona numa entrada de 15/09/1949, então com 16 anos. Well, Susan, a great deal of it...

10.6.11

De repente, mais um Bloomsday se aproxima

"I will try to express myself in some mode of life or art as freely as I can and as wholly as I can, using for my defence the only arms I allow myself to use - silence, exile, and cunning."


Joyce in Portrait of the Artist as a Young Man

22.5.11

E de repente tudo muda, de uma hora pra outra, como numa ópera de sabão do J. E. Carneiro. E ainda, fugindo de sonhos ruins, acorda-se para dejavus de horror, só que, a vida não é filme. Dá pra roteirizar minimamente, mas tudo pode acontecer independente do esboço que você rabiscou pra enquadrar melhor os dias que morrem tão rápidos e contínuos contigo no meio, meio que alvo, meio que irremediavelmente coadjuvante, mesmo sendo você capaz de se enxergar de maneira diferente, se colocando no centro das coisas como faz o Whitman na poesia. O problema é que em poucos segundos de reflexão séria, não se escapa de constatar a própria pequenez, vulnerabilidade, fragilidade, irrelevância, etc. É um baque. Mas depois disso se tira uma força maior pra continuar fluindo more aware da própria capacidade. Uma megalomania bonita como a de Whitman realmente tem um efeito de iluminação, encanto e tudo, mas o depois, o reverso é meio que desolador, devastador, passo derradeiro no cadafalso.

I'm just the same but brand new.     

11.5.11


"E livre a minha alma sem pudor
de novo apareceu e se movia"


K. Kávafis

Cabei de ver esses versos do K. na ótima revista de literatura traduzida n.t.
Download. 

26.4.11

Começou hoje o seminário sobre os ensaios de Antonio Candido com o prof. Joaquim Alves de Aguiar - um cara de 58 anos e muito interessante. Durante a sua fala, ele basicamente apresentou o Candido, seguindo os preceitos do crítico mineiro, para quem a crítica deve ser acessível ao grande público e não poser, empolada, como a de um Luis Costa Lima. A ideia de Candido de que a literatura brasileira não é suficiente pra formar um leitor culto me fez parar um pouco e pensar: realmente. Razões para isso são:

  • é uma literatura muito recente (séc. XIX). Nesse ponto, ele comentou: como produzir um Rimbaud no Brasil?
  • Descende de uma literatura europeia menor: a portuguesa.
  • nossos melhores resultados até o momento pertencem a um período específico: entre décadas de 1930-60. (eu esticaria até 70).  
Joaquim (Juca) disse que está num momento de sua vida em que doa livros acumulados, que já não fazem mais sentido ler (como Lacan) pois ele precisa aproveitar bem o tempo que lhe resta. Ele falou em crepúsculo e brincou com os presentes, chamando-nos de ignorantes por não sabermos exatamente o que era um caderno de linguagem. Pensaram que fosse o caderno de caligrafia dos paulistas, daí ele disse: "Nãaao, seus ignorantes. Não é da época de vocês então." Meio Latorraca. Meio Blanche Dubois na melancolia da relembrança de um tempo somente dele.   

7.4.11

a palavra é "teaser"


Esse é o trecho de um curta dirigido pelo lindo James Franco. Trata-se de uma adaptação do poema The Feast of Stephen. Fiquei sabendo hoje que Franco vai lecionar a adaptação fílmica de poesia na universidade de NY... eu não esqueço dele em milk.

4.4.11


“O tédio, com má reputação pela frivolidade, apesar de tudo nos permite vislumbrar o abismo do qual emana a necessidade de fervor” E. M. Cioran


foto: Jean-Paul Gaude

3.4.11

Jesus saves, I spend


St. Vincent é uma materialização.

30.3.11

somewhere


um lugar qualquer (somewhere), filme de sofia coppola, é parecido com encontros e desencontros (lost in translation): imagens paradas, como fotografias de vazios; personagens "perdidos" que, no final, sinalizam uma possibilidade de encontro consigo, mas aí o filme acaba e se o final é feliz ninguém sabe. trilha excelente. eu gosto. gostei muito do filme. trilha e imagens combinam tanto. um exemplo é quando pai e filha tomam sol à beira da piscina de um hotel. take longo ao som de i'll try once do strokes. é lindíssimo.
antes da sessão, no dragão, pombos e rolinhas pareciam a procura de ninho. just like me. e também como os personagens de sofia. e se o final é feliz ninguém sabe.

28.3.11


cântaros para sair de casa - gentephobia - nunca fui de dividir guarda-chuva, nem de roubar um, nem de me enganar com um - gentephobia, chá verde serve pra tudo - minha paciência é santa que olha pro céu e diz puta que pariu - por uma questão logística, não concordo com a oração de são sebastião: se eu cuido pouco e ruim do meu próprio bem, o dos outros então - gente me dá vontade de tomar chá e correr pra longe como a gata corre do gambá

26.3.11

Margaret Schlegel

“Of course I have everything to learn – absolutely everything – just as much as Helen. Life’s very difficult and full of surprises. At any event, I’ve got as far as that. To be humble and kind, to go straight ahead, to love people rather than pity them, to remember the submerged – well, one can’t do all these things at once, worse luck, because they’re so contradictory. It’s then that proportion comes in – to live by proportion. Don’t Begin with proportion. Only prigs do that. Let proportion come in as a last resource, when the better things have failed, and a deadlock – Gracious me, I’ve started preaching!”


Howards End

25.2.11


heart block - cloudy rainy weather listening to gorillaz plastic beach and it's great, on jellyfish track i think i heard "don't waste your time on the net"; sometimes you know the thing but you need to hear the thing from out of your head - good fuck and sleep are the key to something i don't dare to name right now.

19.2.11

A Great Unrecorded History

Ler biografias é interessante, a narrativa parece sempre acabar de forma abrupta. Por mais que o livro seja um calhamaço de 400, 500 páginas. E por mais que seja descrita pontuando apenas o que é relevante. Ontem cheguei à ultima página de A Great Unrecorded History, biografia divertida e concentrada na vida sexual de Edward Morgan Forster, autor de Howards End, Passagem para a Índia, Maurice, etc. Colm Tóibin diz que Moffat, a autora desta biografia, recriou uma vida muito mais interessante do que na realidade foi.  Como ele pode saber? O que quer que ele conteste ou acredite saber será tão "fictício" quanto a versão de Moffat.

Um fato intrigante colocado no fim do livro é que Morgan determinou em testamento de que tudo aquilo que ele escreveu a mão não fosse digitalizado, ou copiado por qualquer tipo de máquina. Daí que cadernos, diários, cartas, dentre outros manuscritos, estão espalhados por universidades nos dois lados do Atlântico. Os pesquisadores precisam se deslocar até o Texas, Califórnia, Connecticut (Beinecke Library - maior biblioteca de manuscritos e livros raros do mundo) e Londres caso queiram copiar (também à mão) o que precisam. O curioso é que a vontade do artista prevaleceu à demandas acadêmicas e do mercado editorial. Claro que contrariar o desejo de Kafka, por exemplo, de destruir seus manuscritos após a sua morte são outros quinhentos... mas mesmo assim...

Recomendo a leitura dessa biografia, está disponível na livraria cultura, e ainda não foi traduzida no Brasil.

17.2.11

Joe Ackerley era um dos amigos mais próximos do Morgan (E. M. Forster), 17 anos mais jovem, muito bonito, rico e da pá virada. Na biografia de Forster, escrita por Wendy Moffat, A Great Unrecorded History, Joe aparece como sex machine, tipo, se algo (um cara) se mexesse ele voava em cima. A preferência era por guardas, policiais, e até ladrões - ele se fazia na boca do lixo.

No entanto, acabei de ver que não era bem assim. Um artigo da NYorker mostra que o grande amor da vida de Joe foi uma cadela, Queenie, uma pastor alemão com quem ele viveu 15 anos. Ao lado dela, a vida social dele foi esfriando. Joe escreveu um único romance, We Think The World of You (1960), que, apesar de apresentar personagens gays - até 1967 ser gay era crime na Inglaterra, o enredo gira em torno da cadela Evie. O artigo fala que Joe era do tipo que não engatava relacionamento com ninguém e os pegas dele ficavam só na punheta camarada. Ele tinha nojo do resto. O que levou o biógrafo mais reconhecido de Morgan (P. S. Furbank) a afirmar que Joe era hétero e não sabia. A relação bizarra dele com Queenie seria um indício. Joe descrevia em minúncias coisas tipo: a delicadeza de Queenie fazendo número 2, como ela lembrava um tripé estrategiacamente postada para não se sujar na própria caca; e quando Queenie entrava no cio, sua vulva era massageada por Joe até ele receber jorros do líquido quente dela nas mãos. Ele chegava a detalhar sobre o que fazia com o dedo na safadinha... Queenie era hiper ciumenta, não suportava ver ninguém perto de Joe, e ele um completo freak: ele também gostava de observar a transformação de Queenie no bicho que de fato era, por exemplo, quando ela caçava coelhos. Joe esmiuçava até mesmo isso em seu diário: a beleza assassina, predadora de Queenie, ao estalar o crânio de coelhos entre os dentes.

Joe encarava esse tipo de descrição naturalmente, assim como ele fazia com tudo na vida. Morgan (na biografia) o aconselhava bastante, geralmente em relação ao jeito folgado do amigo, que podia ser confundido com abuso: "Menos Joe, menos..." Segundo o artigo, tanto no romance quanto em suas outras obras, três livros de memórias - um deles à Queenie, My Dog Tulip (1956) - Joe problematiza justamente isso: o que pode ser dito? O que implica mostrar aquilo que não se menciona, por convenção?

11.2.11

tired of beauty
satisfied with physical exaustion
puzzled by my being a friend
i like constructions like this:
puzzled by my being a friend
or
i appreciate your sucking
and
i'll wash the blood from my hands and get out of here so kiss me goodbye 'coz i really have to get my ass off
people go south
with books of mine which were not a gift of mine
were just my lending them (yeah that construction)
some other time i like to think of them people with my books
i even like to think of my books taken away, lost forever, maybe already recycled in news paper
well
i like the syntagma FUCK OFF
and that makes me remember the missing of my reading (yeah yeah again) of hornby
tentei traduzir esse poema "pensamentos perigosos" mas tá ruim de ficar bom

Dangerous thoughts


Said Myrtias (a Syrian student
in Alexandria during the reign
of the Emperor Konstans and the Emperor Konstantios;
in part a heathen, in part chistianized):
“Strengthened by study and reflection.
I won’t fear my passions like a coward;
I’ll give my body to sensual pleasures,
to enjoyments I’ve dreamed of,
to the most audacious erotic desires,
to the lascivious impulses of my blood,
with no fear at all, because when I wish—
and I’ll have the will-power, strengthened
as I shall be by study and reflection—
when I wish, at critical moments I will recover
my spirit, ascetic as it was before.”



Cavafy 



tradução pro inglês:  1992, Edmund Keeley and Philip Sherrard

2.2.11

Lendo a biografia de E. M. Forster, A Great Unrecorded History. Está sendo uma aula sobre queer art na primeira metade do século passado. Forster fazia boas amizades através de seus ensaios, que despertavam a empatia principalmente de artistas iniciantes. Eles geralmente identificavam entrelinhas que passavam batidas pelo público leitor em geral. É o caso de Paul Cadmus, pintor e desenhista americano.


Esse é um dos trabalhos mais famosos dele, The Flett's Inn, de 1934. A tela teve de ser removida da galeria em que foi exibida na época. A representação do casal gay incomodou o público.

Essa outra, Jerry (1931) teve como modelo Jerry
French, amante de Paul. Jerry era casado com Margaret Hoening, também artista plástica. Formavam um menage a trois famoso. O que deixava Forster intrigado, ele que tinha o povo do Bloomsburry como referência,  só que estes eram muito discretos em comparação com o trio novaiorquino. Parece que os três realmente funcionavam como um trio, iam pra cama juntos e tal. Essa pintura comemorava o Bloomsday, e também era bem subversiva pois ilustra o livro de Joyce, que na época estava proibido de circular. Era um livro maldito.


Cadmus produziu bastante e o trabalho dele é fantástico. Esse aqui é Arabesque, que tem várias versões tanto em gravura quanto pintura. Para Forster, tanto o trabalho quanto o estilo de vida dos amigos americanos o atraía por serem descomplicados, bem-humorados, sem medo. A condenação de Oscar Wilde o traumatizou. Talvez por isso os ensaios dele sejam repletos de mensagens subliminares, com as quais os artistas mais novos se identificavam: "Tolerance, good temper, and sympathy are no longer enough in a world which is rent by religious and racial persecution, in a world were ignorance rules..." e por aí vai num dos ensaios mais famosos dele, What I Believe. 

29.1.11

Vi uma cena no Chico Xavier da globo que me fez pensar em alugar o dvd quando sair. Ele tem um piti super pintoso no avião no meio de uma turbulência. Daí uma entidade abusada e bonita diz pra ele dar exemplo e aproveitar a ocasião pra mostrar sua fé. Chico diz histéric@mente "mas eu vou morrer como todo mundo!" A entidade sexy diz: "pois pelo menos morra educadamente."
***
Sou curioso e já cheguei a sair de casa pra ver O Império do Besteirol Contra-Ataca (faz muito tempo). Noto que pouca coisa mudou em termos de opções cinematográficas em Fortaleza depois dos multiplex e do fechamento dos cinemas do centro nos 1990's. Tipo, em 12 salas num shopping center distribuem 4 filmes, sendo 3 direcionados pra pivetada. O espaço unibanco é fraco e mal conduzido. Mas eu só queria dizer que não gostei do A Rede Social e quase todo mundo com quem eu falo é da mesma opinião. Menos os críticos especializados. Talvez seja um problema de leigo, que não entende bem sobre técnica, montagem, etc. Sylvia Colombro porém concorda comigo. Filme bom que vi foi Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (You will meet a tall dark stranger). Também não sou expert em Woodie mas gosto dele. O meu predileto dele é Manhattam. Depois que vi o último, disse pra um amigo: ele usa sem medo recursos super batidos da narração, aquela que engancha imprevisibilidades pra prender o ouvinte.
***
A rua augusta em sampa agora no jg. Comprei ótimos filmes piratas ali. Coisa fina. Fellinni, Tarkovski...
***
Vi Taniko a primeira das dionisíacas do Celso Martinez no TJA. Chovia, e o trajeto até o teatro me deu mais prazer do que o espetáculo.
***
Bob's dead.     

20.1.11

Sarah Kane


Lembro da cara espantada de uma vendedora quando eu perguntei se havia algum volume de Adoro Morrer, um livro de contos que comprei faz muito tempo. Lembro que a vendedora disse muito timidamente "Deus me livre, eu adoro é viver." Ontem eu pensava sobre o "fascínio" que tem essa coisa toda do suicídio. Pelo menos para algumas pessoas, o assunto desperta no mínimo um recolhimento rápido, uma parada pra pensar (e pesar), por mais que num primeiro momento o suicídio pareça algo que escape ao entendimento. Por mais que comunique apenas uma sensação ligeira, como quando você não encontra a palavra certa e a pessoa na tua frente diz "tudo bem, eu sei, eu entendo". A sensação que causa o suicídio é como essa frase "eu sei". Não representa o fato (a pessoa não sabe exatamente), mas sente um resquício de entendimento, e com isso acredita ter adivinhado o que o outro não conseguia expressar. Bem, nem eu entendi muito bem o que eu disse, mas a idéia do suicídio causa essa parada, essa imprecisão mesclada com espanto e admiração. Quem se mata parece exercer um tipo de soberania existencial que somente quem é gente é capaz de exercer.

Digo isso também porque ontem comecei a escrever um poeminha para o vira-lata ancião aqui de casa, que tem sofrido muito com mazelas da degeneração física. Ninguém sabe ao certo a idade dele, Bob, mas acreditamos que está chegando na casa dos vinte. Eu quis dizer no poema que o Bob, pela natureza hedonista dele, provavelmente pularia de um prédio ou se afogaria caso não fosse apenas um cão. Óbvio, essa idéia tem mais viagem do que fundamento, afinal é um poema pra um blog que tem, se muito, um leitor ou dois: o traças.

Certa vez, quando eu conversava com uma amiga sobre fazer um trabalho envolvendo poetas suicidas,  Plath e Ana C., acabamos descobrindo a dramaturga Sarah Kane. Ela se matou no banheiro de um hospital psiquiátrico com os cadarços do sapato em 1999. Li agora mesmo um trecho de Phaedra's Love, uma espécie de releitura de um mito antigo escrita por ela. Eurípedes também o utilizou na sua tragédia Hipólito. Outros autores, como Sêneca e Racine, também produziram textos tendo por base essa história mítica, sobre uma mulher apaixonada pelo enteado (Hipólito), e que acaba encontrando no suicídio a solução para os seus males. Encontrei o trecho de Phaedra's Love no artigo *Phaedra's Love de Sarah Kane: Tradução, Adaptação, Encenação da professora Tania Alice Feix. O artigo discorre também sobre a experiência da montagem da peça pela Companhia de Teatro Partículas Elementares da Universidade Federal de Outro Preto.

Na versão de Kane, Hipólito é o personagem central, como sugere o título. Destaco aqui duas falas dele que ilustram um pouco a vibe da peça. Phaedra, apaixonada pelo rapaz, consegue fazer um boquete nele. Logo em seguida o enteado diz: "Pronto. Acabou o mistério. Agora que você me teve, vá trepar com outro." Imaginando uma filiação tosca no campo da ficção, esse Hipólito seria filho do narrador de First Love de Samuel Beckett! Quando Hipólito recebe a visita de um padre, que procura convencê-lo a negar o estupro da madrasta (Phaedra é estuprada!) para que assim fosse perdoado, ele convence o padre a também lhe fazer uma felação e em seguida joga na cara do padre: "Eu sei o que eu sou. E o que sempre serei. Mas você peca sabendo que vai confessar. Depois é perdoado. E começa tudo de novo. Como você se atreve a sacanear um Deus tão poderoso? A não ser que realmente não acredite nele." Isso é muito Beckett, claro, só que na década de 90. Na verdade, a indiferença, a desilução, o cinismo fazem entrever semelhanças com o bom e velho Sam. Vou procurar as peças da Sara. Por enquanto, é possível experimentar um pouco do que essa mulher interessante "pensou" para os palcos em adaptações para a TV que foram parar no youtube.

* O artigo compõe o livro Tradução, Vanguardas e Modernismos. Vários autores. 2009. Editora Paz e Terra.  

13.1.11

Contrariando outras urgências, estou lendo uma biografia de Forster: A Great Unrecorded History: A New Life of E. M. Forster, de Wendy Moffat. É boa. Na verdade, tem momentos muito bons e outros desinteressantes. O título "A great unrecorded history" foi retirado das anotações de Forster. Na época, logo quando ele ingressou na vida sexual, aos 37 anos, percebeu que haviam muitas histórias (e muita História) fadadas à clandestinidade, esquivas a qualquer tipo de registro devido à então intolerância legal à orientação gay. Bem no centro do livro há uma seleção de fotos que mostram que Forster, apesar de feioso, se deu muito bem com belos amantes ao longo da vida.

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