Joe Ackerley era um dos amigos mais próximos do Morgan (E. M. Forster), 17 anos mais jovem, muito bonito, rico e da pá virada. Na biografia de Forster, escrita por Wendy Moffat, A Great Unrecorded History, Joe aparece como sex machine, tipo, se algo (um cara) se mexesse ele voava em cima. A preferência era por guardas, policiais, e até ladrões - ele se fazia na boca do lixo.
No entanto, acabei de ver que não era bem assim. Um artigo da NYorker mostra que o grande amor da vida de Joe foi uma cadela, Queenie, uma pastor alemão com quem ele viveu 15 anos. Ao lado dela, a vida social dele foi esfriando. Joe escreveu um único romance, We Think The World of You (1960), que, apesar de apresentar personagens gays - até 1967 ser gay era crime na Inglaterra, o enredo gira em torno da cadela Evie. O artigo fala que Joe era do tipo que não engatava relacionamento com ninguém e os pegas dele ficavam só na punheta camarada. Ele tinha nojo do resto. O que levou o biógrafo mais reconhecido de Morgan (P. S. Furbank) a afirmar que Joe era hétero e não sabia. A relação bizarra dele com Queenie seria um indício. Joe descrevia em minúncias coisas tipo: a delicadeza de Queenie fazendo número 2, como ela lembrava um tripé estrategiacamente postada para não se sujar na própria caca; e quando Queenie entrava no cio, sua vulva era massageada por Joe até ele receber jorros do líquido quente dela nas mãos. Ele chegava a detalhar sobre o que fazia com o dedo na safadinha... Queenie era hiper ciumenta, não suportava ver ninguém perto de Joe, e ele um completo freak: ele também gostava de observar a transformação de Queenie no bicho que de fato era, por exemplo, quando ela caçava coelhos. Joe esmiuçava até mesmo isso em seu diário: a beleza assassina, predadora de Queenie, ao estalar o crânio de coelhos entre os dentes.
Joe encarava esse tipo de descrição naturalmente, assim como ele fazia com tudo na vida. Morgan (na biografia) o aconselhava bastante, geralmente em relação ao jeito folgado do amigo, que podia ser confundido com abuso: "Menos Joe, menos..." Segundo o artigo, tanto no romance quanto em suas outras obras, três livros de memórias - um deles à Queenie, My Dog Tulip (1956) - Joe problematiza justamente isso: o que pode ser dito? O que implica mostrar aquilo que não se menciona, por convenção?
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