29.1.11

Vi uma cena no Chico Xavier da globo que me fez pensar em alugar o dvd quando sair. Ele tem um piti super pintoso no avião no meio de uma turbulência. Daí uma entidade abusada e bonita diz pra ele dar exemplo e aproveitar a ocasião pra mostrar sua fé. Chico diz histéric@mente "mas eu vou morrer como todo mundo!" A entidade sexy diz: "pois pelo menos morra educadamente."
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Sou curioso e já cheguei a sair de casa pra ver O Império do Besteirol Contra-Ataca (faz muito tempo). Noto que pouca coisa mudou em termos de opções cinematográficas em Fortaleza depois dos multiplex e do fechamento dos cinemas do centro nos 1990's. Tipo, em 12 salas num shopping center distribuem 4 filmes, sendo 3 direcionados pra pivetada. O espaço unibanco é fraco e mal conduzido. Mas eu só queria dizer que não gostei do A Rede Social e quase todo mundo com quem eu falo é da mesma opinião. Menos os críticos especializados. Talvez seja um problema de leigo, que não entende bem sobre técnica, montagem, etc. Sylvia Colombro porém concorda comigo. Filme bom que vi foi Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (You will meet a tall dark stranger). Também não sou expert em Woodie mas gosto dele. O meu predileto dele é Manhattam. Depois que vi o último, disse pra um amigo: ele usa sem medo recursos super batidos da narração, aquela que engancha imprevisibilidades pra prender o ouvinte.
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A rua augusta em sampa agora no jg. Comprei ótimos filmes piratas ali. Coisa fina. Fellinni, Tarkovski...
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Vi Taniko a primeira das dionisíacas do Celso Martinez no TJA. Chovia, e o trajeto até o teatro me deu mais prazer do que o espetáculo.
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Bob's dead.     

20.1.11

Sarah Kane


Lembro da cara espantada de uma vendedora quando eu perguntei se havia algum volume de Adoro Morrer, um livro de contos que comprei faz muito tempo. Lembro que a vendedora disse muito timidamente "Deus me livre, eu adoro é viver." Ontem eu pensava sobre o "fascínio" que tem essa coisa toda do suicídio. Pelo menos para algumas pessoas, o assunto desperta no mínimo um recolhimento rápido, uma parada pra pensar (e pesar), por mais que num primeiro momento o suicídio pareça algo que escape ao entendimento. Por mais que comunique apenas uma sensação ligeira, como quando você não encontra a palavra certa e a pessoa na tua frente diz "tudo bem, eu sei, eu entendo". A sensação que causa o suicídio é como essa frase "eu sei". Não representa o fato (a pessoa não sabe exatamente), mas sente um resquício de entendimento, e com isso acredita ter adivinhado o que o outro não conseguia expressar. Bem, nem eu entendi muito bem o que eu disse, mas a idéia do suicídio causa essa parada, essa imprecisão mesclada com espanto e admiração. Quem se mata parece exercer um tipo de soberania existencial que somente quem é gente é capaz de exercer.

Digo isso também porque ontem comecei a escrever um poeminha para o vira-lata ancião aqui de casa, que tem sofrido muito com mazelas da degeneração física. Ninguém sabe ao certo a idade dele, Bob, mas acreditamos que está chegando na casa dos vinte. Eu quis dizer no poema que o Bob, pela natureza hedonista dele, provavelmente pularia de um prédio ou se afogaria caso não fosse apenas um cão. Óbvio, essa idéia tem mais viagem do que fundamento, afinal é um poema pra um blog que tem, se muito, um leitor ou dois: o traças.

Certa vez, quando eu conversava com uma amiga sobre fazer um trabalho envolvendo poetas suicidas,  Plath e Ana C., acabamos descobrindo a dramaturga Sarah Kane. Ela se matou no banheiro de um hospital psiquiátrico com os cadarços do sapato em 1999. Li agora mesmo um trecho de Phaedra's Love, uma espécie de releitura de um mito antigo escrita por ela. Eurípedes também o utilizou na sua tragédia Hipólito. Outros autores, como Sêneca e Racine, também produziram textos tendo por base essa história mítica, sobre uma mulher apaixonada pelo enteado (Hipólito), e que acaba encontrando no suicídio a solução para os seus males. Encontrei o trecho de Phaedra's Love no artigo *Phaedra's Love de Sarah Kane: Tradução, Adaptação, Encenação da professora Tania Alice Feix. O artigo discorre também sobre a experiência da montagem da peça pela Companhia de Teatro Partículas Elementares da Universidade Federal de Outro Preto.

Na versão de Kane, Hipólito é o personagem central, como sugere o título. Destaco aqui duas falas dele que ilustram um pouco a vibe da peça. Phaedra, apaixonada pelo rapaz, consegue fazer um boquete nele. Logo em seguida o enteado diz: "Pronto. Acabou o mistério. Agora que você me teve, vá trepar com outro." Imaginando uma filiação tosca no campo da ficção, esse Hipólito seria filho do narrador de First Love de Samuel Beckett! Quando Hipólito recebe a visita de um padre, que procura convencê-lo a negar o estupro da madrasta (Phaedra é estuprada!) para que assim fosse perdoado, ele convence o padre a também lhe fazer uma felação e em seguida joga na cara do padre: "Eu sei o que eu sou. E o que sempre serei. Mas você peca sabendo que vai confessar. Depois é perdoado. E começa tudo de novo. Como você se atreve a sacanear um Deus tão poderoso? A não ser que realmente não acredite nele." Isso é muito Beckett, claro, só que na década de 90. Na verdade, a indiferença, a desilução, o cinismo fazem entrever semelhanças com o bom e velho Sam. Vou procurar as peças da Sara. Por enquanto, é possível experimentar um pouco do que essa mulher interessante "pensou" para os palcos em adaptações para a TV que foram parar no youtube.

* O artigo compõe o livro Tradução, Vanguardas e Modernismos. Vários autores. 2009. Editora Paz e Terra.  

13.1.11

Contrariando outras urgências, estou lendo uma biografia de Forster: A Great Unrecorded History: A New Life of E. M. Forster, de Wendy Moffat. É boa. Na verdade, tem momentos muito bons e outros desinteressantes. O título "A great unrecorded history" foi retirado das anotações de Forster. Na época, logo quando ele ingressou na vida sexual, aos 37 anos, percebeu que haviam muitas histórias (e muita História) fadadas à clandestinidade, esquivas a qualquer tipo de registro devido à então intolerância legal à orientação gay. Bem no centro do livro há uma seleção de fotos que mostram que Forster, apesar de feioso, se deu muito bem com belos amantes ao longo da vida.