28.5.08

Hart Crane


Forgetfulness is like a song
That, freed from beat and measure, wanders.
Forgetfulness is like a bird whose wings are reconciled,
Outspread and motionless, --
A bird that coasts the wind unwearyingly.
Forgetfulness is rain at night,
Or an old house in a forest, -- or a child.
Forgetfulness is white, -- white as a blasted tree,
And it may stun the sybil into prophecy,
Or bury the Gods.
I can remember much forgetfulness.

23.5.08

Laboratório

Os escritores que conheço, ou aqueles de quem eu li as biografias, têm uma coisa em comum: uma infância tensa. Não digo, necessariamente, infeliz, mas crianças que foram forçadas a uma prematura consciência de si mesmo, cedo tiveram que aprender a observar os adultos, avaliá-los, distinguir do que diziam, suas verdadeiras intenções, crianças que continuamente observavam todo mundo – tiveram o melhor dos aprendizados.

Doris Lessing

20.5.08

insurreição

Uma maçã repousa sobre a superfície branca do balcão bem no meio do meu apartamento. Passaram-se dias, ensolarados, nublados; passaram-se mesmo partidas e adeuses. Gente subindo e gente descendo o mapa do mundo. E o que há com essa maçã que tanto resiste? Não há nela uma mácula que seja, nenhum sinal de degradação. E está apartada do galho, penso comigo. Permance corada e bela. Será que posso comê-la depois de tanto tempo? Gosto de maçãs como adornos comestíveis. Sempre que uma estraga, geralmente a última, ponho no lixo com aquela sensação de pesar, mas de conformidade. Essa insurreição mesmo que heróica é desordeira, ameaçadora, irreal. Preciso ser forte, lembrar muito bem o que acontece quando se permite que o irreal se encante. Tenho que.

14.5.08

Sempre ao cair da noite

Sinto falta de ter saudade. Olhar pela janela a escuridão e aspirar no ar perfumado de mato a esperança de um momento de alegria condensada e pulsante. Taquicardias ao ouvir meu nome sendo chamado enquanto a voz se aproxima. O encontro, o sorriso, a excitação intensa, o nervosismo. O cheiro único dessa pessoa, feito de suor e perfume. Sinto muito tudo isso estar vedado, trancafiado nunca caixa abarrotada de lembranças pra nunca mais.

2.5.08

Não se escapa da origem

"Publicar um livro não faz muito por nossa alma, mas é certamente uma experiência interessante. Aprendemos algumas coisas sobre nós mesmos e até mais sobre como somos interpretados."

As palavras acima são de Daniel Alarcon, escritor de origem peruana que pertence à nova geração de escritores norte-americanos. Ele revela numa entrevista que sua origem peruana influencia na recepção de sua ficção. Esperam que em sua biografia conste pais imigrantes ilegais, dificuldades financeiras, e uma força de vontade enorme para se tornar escritor devido a instrução que supostamente recebeu. Esperam, portanto, um exemplo de superação.

Na verdade, Daniel decepciona uns e outros ao informar que seus pais não eram imigrantes ilegais, mas profissionais de posição. Ele cresceu num ambiente culto e frequentou boas escolas. Até mesmo para o padrão americano, ele foi um privilegiado. No entanto, sua origem sócio-econômica é constantemente questionada em entrevistas. O que não ocorre, segundo ele, com seus pares de origem não latina. Ele pergunta:
"Todos os escritores - apesar de raça, gênero, idade, orientação sexual, origem étnica, língua nativa, identidade nacional, classe social - todos nós não tentamos escrever sobre gente que não é a gente? E como seria chato se assim fizéssemos!? Porque então esse questionamento?"

Fica claro o desconforto diante do preconceito. O caso dele mostra claramente o interesse que desperta a biografia de escritores, assim como a expectativa gerada por ela. Espera-se de um escritor como Daniel Alarcon, devido ao seu nome e origem, narrativas sobre a vida miserável do terceiro mundo ou da pobreza e marginalidade dos latinos ilegais nos
Estados Unidos. Como ele mesmo classifica, reportagens.