19.7.11

Bowie

Nosso passado a gente inventa. Cada vez mais me convenço disso. Acho até que isso tem a ver com o prazer em ler e criar histórias. Prazer de ver retalhos de imagens, sonhos e experiências diversas tão bem costurados que parecem refletir nossa própria experiência. Autêntica e inventada. Penso agora na imagem do passado que alguns artistas tentam passar e que não correspondem com o relato de pessoas que conviveram com el@s. A Lady Gaga é um exemplo rasteiro, até porque é bem recente. Mas já soube que ela procura passar a ideia de que sempre foi freak e na escola sofria bullying por ser esquisitona. Colegas do seu tempo dizem outra coisa: ela era bem comum, popular até, bem average. Ela rebate dizendo que esses que a contradizem foram exatamente os seus carrascos.

E agora soube que o Bowie também tem disso de ficcionalizar a vida. A maneira como ele descrevia a família (nutty) parece apontar pra um tipo de explicação pro jeito excêntrico dele de ser. Na realidade, segundo uma nova biografia (David Bowie: Starman - Paul Trinka), Bowie era um tipo de aluno comum, inteligente e educado.

Gosto de ler biografias. Apesar do trabalho de pesquisa, muitas vezes penoso, é o tipo de texto que entra na arena da narrativa, do distanciamento, e, inevitavelmente, da invenção. Quando bom, um texto biográfico é ótima literatura. O fato é que o artista quer que tudo vire arte (lou@s e lúcid@s). Isso é o que me atrai nas bios. Por exemplo, Bowie tinha um meio-irmão, Terry. Ele realmente tinha problemas mentais e se matou em 1985 (pôs a cabeça sobre a linha do trem). Com essa passagem trágica de sua vida, Bowie fez Jump They Say, música fantástica:

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