mesmo pressionada pela presença dele, ela não se decide. um simples chocolate! pelo amor di, pensa ele, enquanto põe um sorriso de condescendência no rosto mas trai a impaciência oculta com um olhar incompatível. ela sabe que ele não gosta de esperar. constrangida e ainda totalmente incerta se opta por um tablete com recheio cremoso de avelã, ou hortelã, ou aquele por qual suas papilas ejetam microjatos de saliva, lhe encharcando a boca:o super simples chocolate com recheio crocante, ela retira da prateleira o único que ele também irá comer: chocolate branco.
vencida, ela lentamente perde o desejo enquanto pondera o porquê de tanta anulação quando está com alguém. e mais, por que está sempre com alguém? ela então se choca com a cadeia de essencialidades que vem à sua mente na fila do supermercado. ela ouve maybe not, cat power. por que não deixar esse chocolate pra trás? melhor! por que não deixar esse cara que gosta de chocolate branco pra trás? essa é óbvio, ela conversa consigo, porque eu ficaria sozinha. mais uma vez. talvez não, ela não sabe a letra de maybe not mas gosta da música. ela se vê possível apesar de embaçada na parede de vidro à sua frente. ela desiste do chocolate branco e diz pra ele não quero mais.
26.10.08
25.10.08
Adiamentos
Dei com meia dúzia de gente atrás de unidades
um jornal, um cartão telefônico, um bombom
O homem da banca ergueu a cabeça pra mim
a cigarette, eu disse, sem querer dizendo
Imediatamente corrigi o lapso: um cigarro
Um rapazinho loiro sorriu com o canto da boca
Talvez nada mais admire o homem da banca
Com o isqueiro preso numa corrente
Acendi o cigarro por cima dos cabelos acesos
do rapazinho, que me acotovelou e disse
licença aí fera - Sure!
Dali saí com um poema cru.
um jornal, um cartão telefônico, um bombom
O homem da banca ergueu a cabeça pra mim
a cigarette, eu disse, sem querer dizendo
Imediatamente corrigi o lapso: um cigarro
Um rapazinho loiro sorriu com o canto da boca
Talvez nada mais admire o homem da banca
Com o isqueiro preso numa corrente
Acendi o cigarro por cima dos cabelos acesos
do rapazinho, que me acotovelou e disse
licença aí fera - Sure!
Dali saí com um poema cru.
Sozinho no mundo, sem papel nem caneta
eu era um homem repassando frases
catando palavras cuidadosamente -
elas também desmancham.
Até esqueci de uma vingança, veja
E não sou de protelar desforras.
Então eu estava para adiamentos
Pois até mesmo as frases do poema
precisaram esperar.
Diante de um corpo estendido no chão
tão alguém, eu parei com tudo.
Foi atropelado? eu quis saber
de um homem ao lado.
Parece que sim, ele disse,
por uma bicicleta.
Estirado no asfalto, o rapaz mirava o céu
sem estrelas. Ao lado dele, passei a fazer
o mesmo. O homem ao lado também ergueu
a vista pro alto. Fez-se um círculo
de cabeças vasculhando o infinito.
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