um jornal, um cartão telefônico, um bombom
O homem da banca ergueu a cabeça pra mim
a cigarette, eu disse, sem querer dizendo
Imediatamente corrigi o lapso: um cigarro
Um rapazinho loiro sorriu com o canto da boca
Talvez nada mais admire o homem da banca
Com o isqueiro preso numa corrente
Acendi o cigarro por cima dos cabelos acesos
do rapazinho, que me acotovelou e disse
licença aí fera - Sure!
Dali saí com um poema cru.
Sozinho no mundo, sem papel nem caneta
eu era um homem repassando frases
catando palavras cuidadosamente -
elas também desmancham.
Até esqueci de uma vingança, veja
E não sou de protelar desforras.
Então eu estava para adiamentos
Pois até mesmo as frases do poema
precisaram esperar.
Diante de um corpo estendido no chão
tão alguém, eu parei com tudo.
Foi atropelado? eu quis saber
de um homem ao lado.
Parece que sim, ele disse,
por uma bicicleta.
Estirado no asfalto, o rapaz mirava o céu
sem estrelas. Ao lado dele, passei a fazer
o mesmo. O homem ao lado também ergueu
a vista pro alto. Fez-se um círculo
de cabeças vasculhando o infinito.
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