17.1.08

Quando Tarco Chorou

Doug disse que, se fosse hoje, Clarice seria ignorada. Não dei corda, não perguntei porquê. Não tenho paciência de receber certos esclarecimentos, não mais. Não tenho paciência de cativar certos seres, também.
O pior do humano, pra mim, é o ser humano. Melhor dizer que o pior do humano são os seres humanos. O melhor do humano é uma coleção de boas coisas, que infelizmente não sobrepõe o pior do humano. A criação é das melhores coisas humanas e os criadores são as pessoas mais interessantes, pra mim. Com a criação os significados, muitos deles, se revelam. Há muita revelação quando se cria. Revelação do próprio indivíduo criador: eu sou isso, e muito mais.
Diante do criador revelado, diante de apenas um viés do vasto universo que é um artista, o interlocutor pode mirar a própria imagem. O desnudamento do que se é por um outro, por um estranho, é um choque. Esse choque ou reanima o que adormecia, o intelecto, ou não. Ou toca, ou não toca. Então há seres capazes de coisas desse tipo, deslumbrar seus pares, mostrar que somos todos tanto ordinários quanto únicos. E isso é grande, glorioso.
Aqueles capazes de tal feito, de nos revelar, são únicos e preciosos. Ian McEwan transforma-se em superfície lisa de água, um lago escuro talvez, calmo mas sinistro. Diante do pesadelo, causado por nós mesmos, temos a delicadeza de afagar os nervos alheios. Beijar o machucado. É irritantemente cínico, mas não deixa de ser tocante, portanto, humano.

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