4.11.08

Conduzindo Mr. Chiasson

Here Follows an Account of the Nature of Birds

Dan Chiasson

Here Follows an Account of the Nature of Fish.
Here follows a description of an unknown town.
Here follows the phoenix-flight from human eyes.
Here follows the friendship fish and langouste.
All the marvels of erotic danger follow here.
Here follows the phone number of a dead person.
Here follows a game based on perfect information.
Five minutes have passed since I wrote this line.
I mistook my baby’s cry for the radiator hiss.
Here follows the address of a place to buy cocaine.
Big sadness come your way, sunrise, skyline.
Let’s do it some new way next time we try.
Do you have anything you can put inside me?
Here Follows an Account of the Nature of Birds.

tradução:

Segue-se um Relato Sobre a Natureza dos Peixes.
Segue-se uma descrição de uma cidade desconhecida.
Segue-se o vôo da fênix a partir de um olhar humano.
Segue-se a amizade peixe e lagosta.
Todas as maravilhas do perigo erótico seguem aqui.
Segue-se o número do telefone de uma pessoa morta.
Segue-se um jogo fundamentado em informação precisa.
Cinco minutos se passaram desde que escrevi essa linha.
Confundi o choro do meu filho com o ruído do radiador.
Segue-se o endereço de onde comprar cocaína.
Grande tristeza vem na sua direção, alvorada, horizonte.
Vamos fazer diferente da próxima vez que tentarmos.
Você tem algo pra colocar dentro de mim?
Segue-se um Relato Sobre a Natureza dos Pássaros.

Dos autores que leio na rede, Dan Chiasson é o que menos possui dados biográficos e outras informações. Talvez ele seja tão ruim em se auto-promover quanto tarcozan. Ele tem livros publicados e alguma coisa disponível na web em boas revistas literárias como a paris review. Gosto dos textos dele, este é o segundo que traduzo e pela segunda vez tenho a impressão que, tirando uma linha ou duas, fui eu mesmo que escrevi. Dan é professor universitário, algo bem comum nos states: professor>escritor/poeta. Esse trânsito entre vida acadêmica e artística é menos incomum do que por aqui. Gosto do estilo desse poema, que me lembrou Bernadette Mayer, outra poeta, acho que uma geração anterior a Chiasson, também pouco falada e comentada pelos canais (the new yorker, granta, etc...) deles mesmos. Bernadette tem ótimas estratégias de construção textual, onde o exercício da escrita é tão importante quanto o que é escrito. Por exercício de escrita pode-se pensar em criação de listas, notas sensoriais sobre tudo que acontece num dado instante, escrita de textos tendo em mente exercitar tempos verbais, tópicos (por exemplo, algo que não possa ser escrito "artisticamente" - como um índice - rsrs), lembranças (aquilo que de mais imediato venha à mente). Pode parecer desapego ao conteúdo, mas na verdade é a comprovação e conseqüente capitulação à onipotência do conteúdo, do sentido. Não existe o não-conceito. Até o nada, o zero, o vazio, a inexistência têm sentido; simplesmente existem. E eu viajei.

Traduzir é uma ação que acaba levando a vítima a se apaixonar por seu carrasco. A impossibilidade de conseguir um efeito, ao menos aproximado, no português com as rimas internas nesse poema do Chiasson é frustrante. Não consigo, daí eu amo.

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