24.11.09

fui na padaria tomar café, meio da tarde. odiei o bolo xadrez, gosto de plástico, daí só mordi e deixei. fiquei com maria-maluca, para variar, e coca-cola.
tomei caminho diferente pra ir atrás de alugar perto do detran. parei junto de um senhor de rosto bem murcho, cara de dom quixote, bigode, numa monark vermelha. perguntei onde era o detran. ele me estendeu a mão e disse, pode pegar, tá limpa. apertei a mão dele, ilesa de calos, macia até. o homem bêbado deixou a monark cair no meio fio, me pegou no ombro e passou a apontar pro horizonte desenhando no ar o rumo que eu deveria seguir. o detran era logo ali e ele parecia insatisfeito em dar um informação tão curta e simples.
me despedi dele e agradeci.
quando me distanciei ele disse SEJA FELIZ, FIQUE COM DEUS.

23.11.09

acho que cochilei no onibus ontem. e ronquei. acordei com umas meninas rindo muito e fazendo uns roncos nasais bem parecido com porco. talvez tenha sido o ronco de outra pessoa que animou elas, mas enfim. enfim.
vou usar o drama da lisa doolittle de my fair lady na aula de fonologia hoje.
tudo excepcionalmente ok, exceto por P.
há risco de não vê-lo mais. seria muito before sunrise. que é lindo, só que no cinema.

P.,

I was a good kid I wouldn't do you no harm
I was a nice kid with a nice paper arm
Forgive me any pain I may have brung to you
With God's help I know I'll always be near to you

But Jesus hurt me when he deserted me
But I have forgiven Jesus for all the desire
He's placed in me when there's nothing
I can do with this desire

I was a nice kid through hail and snow
I'd go just to moon you
I carried my heart in my hands
Do you understand?
Do you understand?

But Jesus hurt me when he deserted me
I have forgiven Jesus for all of the love
He placed in me when there's no one
I can turn to with this love

Monday, humiliation
Tuesday, suffocation
Wednesday, condescension
Thursday, it's pathetic
by Friday, this life has killed me

oh pretty world,
why did he give me so much desire
when there's nowhere I can go
to offer all this desire
why did you give me
so much lovein a loveless world
when there's no one I can turn to
to unlock all of this love
why did you stick me in
self-deprecating bones and skin
Oh Jesus, do you hate me?
do you hate me? do you hate me?

2.11.09

zelda


escuto daqui pro futuro - pato fu, sem dúvida.

leio muita coisa e sinfonia em branco - adriana lisboa, bom.

conheci o liceu do ceará - jacarecanga, me perdi, subi na primeira topic, desci, andei, dragão, fotos, turistas, coca zero, museu, dark room, mud room, meu amigo: eles gastam muito dinheiro! é mesmo, concordei. a grama lá fora estava seca, deitamos. meu amigo: é tão bom.

ganhei presente, uma contracapa meio molhada - talvez água do mar - de um livro do drummond. destacada do livro, lembra um cartão. a foto do drummond, um poema breguinha, mais dedicatória atrás. ainda não curto drummond. gostei da contracapa.

volta pra casa. um homem toma banho com spray desodorante numa mesa de bar. todos riem. meu amigo: é toque, é doença. o homem dá o frasco a um tatuado - muita tatuagem no mundo - que aceita e usa nas axilas. todos riem. eu e meu amigo passamos a falar de zelda, a mulher do scott, cultura pop, intertextos, grupos de extermínio... o futuro.

26.10.09

muito filme

dizer isso jamais aconteceria é inviável na minha aldeia. dei de cara com r., que mesmo não sendo alguém em especial, sob qualquer perspectiva e circunstância, me surpreendeu; justo na casa da i., que amo de paixão, sob toda perspectiva e circunstância.
lots of brownie, social, e deslocamento - graças a deus, nao meu.

20.10.09

é isso aí

Não faz muito tempo, o mundo – e o Brasil, em particular –, se escandalizou com as manifestações racistas contra jogadores de futebol que foram hostilizados por torcedores nos estádios europeus apenas porque eram negros. Na Itália e na Espanha, diversos jogadores negros, inclusive brasileiros, foram chamados de “macacos”, “gorilas” e “pretos de merda” por torcidas organizadas dos maiores times daqueles países. As reações foram, felizmente, imediatas. Intelectuais, jornalistas, políticos e autoridades esportivas de todo o planeta botaram a boca no trombone e reduziram, como era de se esperar, gente assim ao nível de delinqüentes comuns.

Ainda há, eventualmente, exaltações racistas nos gramados, mas há um consenso razoavelmente arraigado sobre esse tipo de atitude, tornada, universalmente, inaceitável. Você não irá ver, por exemplo, no Maracanã, torcidas inteiras – homens, mulheres e crianças – gritando “crioulo safado” para o artilheiro Adriano, do Flamengo, por conta de alguma mancada do Imperador. Com a PM circulando, nem racistas emperdenidos se arriscam a tanto. Mas, ai de Adriano, se ele fosse gay.

No sábado passado, espremido no Maracanã ao lado de meu filho mais velho e outras 57 mil pessoas, fui ver um jogaço, Flamengo 2 x 1 São Paulo, de virada, um espetáculo de futebol. Quando o time do São Paulo entrou em campo, as torcidas organizadas do Flamengo, além de milhares de outros torcedores avulsos, entoaram, a todo pulmão: “Veados, veados, veados!”. Daí, o painel eletrônico passou a anunciar, com a ajuda do sistema de autofalantes, a escalação são-paulina, recebida com as tradicionais vaias da torcida da casa, até aí, nada demais. Mas o Maraca veio abaixo quando o nome do volante Richarlyson foi anunciado: “Bicha, bicha, bicha!”. E, em seguida: “Bicharlyson, Bicharlyson!”.

Ao longo da partida, bastava que o são-paulino tocasse na bola para receber uma saraivada de insultos semelhantes. No ápice da histeria homofóbica, a Raça Rubro Negra, maior e mais importante torcida do Rio, e uma das maiores do Brasil, convocou o estádio a entoar uma quadrinha supostamente engraçada. Era assim: “O time do São Paulo/só tem veado/o Dagoberto/come o Richarlyson”. Richarlyson virou alvo da homofobia esportiva brasileira, com indisfarçável conivência de cronistas esportivos, jornalistas e colegas de vestiário, a partir de 2005, quando fez uma espécie de “dança da bundinha” ao comemorar um gol do São Paulo, time que por ser oriundo do elitista bairro do Morumbi acabou estigmatizado como reduto homossexual, ou time dos “bambis”, como resumem as torcidas adversárias.

A imprensa chegou a anunciar o dia em que Richarlyson iria assumir sua homossexualidade, provavelmente numa entrada ao vivo, no programa Fantástico, da TV Globo – o que, diga-se de passagem, nunca aconteceu. Desde então, no entanto, o volante nunca mais teve paz. No Maracanã lotado, qualquer lance que o envolvesse era, imediatamente, louvado por um coro uníssono e ensurdecedor de “veado, veado, veado!”. Homens, mulheres e crianças. O atacante Dagoberto entrou de gaiato nessa história apenas porque, com Richarlyson, forma uma eficiente dupla de ataque no São Paulo. Agora, imaginem se, no Morumbi, a torcida do São Paulo saudasse o atacante Adriano, do Flamengo, aos berros de “macaco, macaco, macaco!”, apenas para ficarmos nas analogias retiradas do mundo animal. Ou, simplesmente, entoasse uma quadrinha do tipo criada para a dupla Dagoberto/Richarlyson, dizendo que no Flamengo só tem crioulo, que Adriano enraba, sei lá, o Petkovic. O mundo iria cair, e com razão, porque chegamos a um estágio civilizatório onde o racismo tornou-se motivo de repulsa, mesmo em suas nuances tão brasileiras, escondidas em piadas de salão e ódios de cor mal disfarçados no elevador social.

Usa-se, no caso dos gays, o mesmo mecanismo perverso que perdurou na sociedade brasileira escravagista e pós-escravagista com o qual foi possível transformar em insulto uma condição humana que deveria, no fim das contas, ser tão somente aceita e respeitada. Assim, torcedores brasileiros chamam de veados os são-paulinos em campo como, não faz muito tempo, nos chamavam, os argentinos, de “macaquitos”, em pleno Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, para revolta da nação. Quando – e se – a lei que criminaliza a homofobia no Brasil, a exemplo do racismo, for aprovada no Congresso Nacional, será preciso educar gerações inteiras de brasileiros a respeitar a sexualidade alheia.

Espero, a tempo de recebermos os atletas que virão às Olimpíadas de 2016, no Rio, provavelmente, no mesmo Maracanã que hoje se compraz em xingar Richarlyson de veado. Por enquanto, a discussão sobre a lei está parada, no Brasil, porque o lobby das bancadas religiosas teme abrir mão de um filão explorado por fanáticos imbuídos da missão de “curar” homossexuais, ou de outros, para quem os gays são uma aberração bíblica passível, portanto, da ira de deus. Nos jornais de domingo, nem uma mísera linha sobre o assunto. Das duas uma: ou é fato banal e corriqueiro, logo, tornado invisível aos olhos das dezenas de repórteres enfiados na tribuna da imprensa do Maracanã; ou é conivência mesmo.

Leandro Fortes
Brasília, eu vi
Carta Capital

15.10.09

dear sir,

a trufa 70% de cacau da cacau show é doce!
a vendedora disse que era no limite do amargo
daí o doce me chocou
alfajor é uma delícia e não tem no dicionário
encontrei ds, gordo.
ds dá um conto bem longo
gosta de amargura, meninas quadradas, e doces
como trufas e alfajor.
encontrei spts, acanhado feito gato maltratado.
pegou na minha mão e disse
vim só pegar na tua mão e eu disse
ah tá.
ele deu meia volta e se foi, como bom freak
que é.

eu, so rappy.

13.10.09

e. m. forster

"... viver com equilíbrio. Não comece pelo equilíbrio. Só gente de nariz empinado faz isso. Deixe que o equilíbrio venha como último recurso, quando as melhores coisas falharam, e um beco sem saída..."

"... o senso de proporção... viver de acordo com ele. Não começar com proporção. Só os puritanos, moralistas, é que fazem isso. A proporção deve ser usada como último recurso, quando as melhores coisas fracassaram, e um impasse..."


"--to live by proportion. Don't BEGIN with proportion. Only prigs do that. Let proportion come in as a last resource, when the better things have failed, and a deadlock--"

Howards End


a primeira tradução deste trecho vem dentro de um livro belíssimo, capa com textura em alto-relevo, verde escuro, ilustrando grades e colunas de uma mansão, howards end. a segunda tradução é colhida de uma edição de bolso, básica, ediouro. quanto mais leio forster, mais quero ficar perto dele.
o romance abre com a frase "only connect...", que no livro bonito traduz-se "Ligue, simplesmente...". a edição de bolso: "Junte apenas..."


adoro luta de classes.

não paro de ler esses livros e comer maria-maluca...

11.10.09

pensava que ter coração fraco, "subdesenvolvido", "maudlin", fosse defeito desses de se trancafiar e desconversar. soube agora que não é para beauvoir e forster (tou lendo howards end).
so rappy!

7.10.09
















Beverley Knight pra aliviar a pressão.
dei pra me projetar em letras de música.
agora agora: breakout é muito clara e certa:
standing in the shadow, you've been there all night
no one's gonna find you when you're out of sight...
eu sei.


29.9.09

nneka


hoje, nada além de ouvir nneka.

14.9.09

queria ganhar milhões de dinheiro, ficar super rico. do dia pra noite ter ao meu alcance tudo o que dinheiro compre: um ap pequeno, na praia. um carro. e viajar viajar meses, anos, até abusar. fazer curso de escritor no mesmo lugar que a yiyun li fez. fazer teatro. perambular pelo norte da áfrica, mediterrâneo, alexandria. escrever livros! de viagem. queria tudo isso pra, além de me dar bem, me experimentar. ver como me saio com a boca lambendo o anzol. testar minha cuca.

muita gente pira com dinheiro instantâneo... meu lado black: além de timbalada e olodum, fui vidrado no fugees, e depois na lauryn hill solo. adorava. lembro de rebobinar mudança de hábito 2 doentiamente pra ver a capela dela voz e piano. o tempo não pára, a mulher desapareceu do mapa da música. pesquisas no google indicam que ela pirou. entrou numa de ter filhos com o filho do bob marley. ela não vive com ele, que continua muito bem com a esposa oficial. lauryn mora com os filhos num hotel e segue rigidamente o que diz um pastor evangélico, estilo jim jones. mas, ela talvez esteja em paz, apesar de totalmente mad.

lembrei de lauryn porque estou ouvindo speech debelle, uma rapper inglesa. ouvi que ela fazia um som hip hop anti-hip hop, meio lounge. nem sei a diferença entre rap e hip hop. o fato é que o som dela é bom, tão diferente que parece pessoal, dela. pelo menos pra mim que não conheço. tem letra boa. o disco se chama speech therapy, que fala por si: exorcismos, carne viva, transformados em verso autêntico. pergunta recorrente que me fazem: qual teu tipo de música predileto? passei a dizer: música feita por gente boa, ponto. mas sempre descamba pra um complicado estudo de casos, pois acrescentam: tipo quem? tipo caetano, adriana, the jesus & mary chain, marnie stern, pato fu, cat power, nneka, roisin murphy, paralamas, feist, morrissey, amy (ela é uma merda; back to black é incrível). até kylie minogue é competente.

speech debelle queria ser uma espécie de tracy chapman mc. e realmente é bem isso. speech, que você não pire!

12.9.09

Me admirei com a coragem de uma recém-conhecida contar um de seus sonhos recorrentes durante viagem. Ela toda me excitou. Sequer lembro do nome dela agora. Ela estava com Flush nas mãos e mostrou entusiasmo com a Mrs. Brown de As Horas, filme. Eu eu eu, mais uma vez, precisei ter algo extraordinário escapulindo entre os dedos: recusei almoçar com ela e o marido. Muito mais para me mostrar comedido. Mil e um cálculos num segundo.

Por falar em sonhos, tive noite com bichos peçonhentos gigantes e gosmentos. Depois presenciei uma missa com meninos e meninas vestindo hábitos marrons, cantando e rezando exaustivamente por horas. Me entusiasmava ver aquela determinação. Em seguida, todos passaram a dançar e andar de patins num pátio enorme.

Ontem ouvi frase calmante de Herman Hesse no programa repórter eco. Não lembro exatamente, mas aponta para o olhar para dentro de si como caminho a se explorar ao invés de chafurdar o lado de fora de si. Vai aqui uma outra, copiada e colada, que talvez nem seja dele, mas simples e reparadora para quem tem péssima memória, como eu: "Quem quiser nascer tem que destruir um mundo; destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a conseqüente dolorosa busca da própria razão do existir: ser é ousar ser." (Demian)

Já esqueci do que li em Demian.

1.9.09

caçar em vão

Ás vezes escreve-se a cavalo.
Arrebentando com toda a carga.
Saltando obstáculos ou não.
Atropelando tudo, passando por cima sem puxar o freio - a galope - no susto, disparado
sobre as pedras, fora da margem feito só de patas, sem cabeça
Nem tempo de ler no pensamento o que corre ou o que empaca:
Sem ter calma e o cálculo de quem colhe e cata feijão.

Armando Freitas Filho

13.8.09

tanta literatura vejo que brotou a partir de algo a ver com dentes: white teeth, zadie smith; the tooth, shirley jackson; dentes guardados, daniel galera, que pôs hilda hilst na epígrafe: Dentes guardados. Não acabam nunca se guardados. Na boca apodrecem.

em white teeth de zadie, a questão do dente tem a ver com a descoberta do mundo. a sensação de ter sido alvo de trapaça, quando descobrimos omissões, segredos, o esconde-esconde da vida adulta, como dentaduras postiças. the tooth, a questão é bem foda: dor física que sobrepõe dores de alma, e para alívio de ambas há o experimento de, a partir de barbitúricos, recriar outra ordem, confusa, difícil, mas necessária para encarar a ordem anterior no olho, motivo de incômodo insuportável, e resolver a questão.

meus cisos superiores tem mais três semanas comigo.

10.8.09

listening to i'm every woman, chaka khan.
lendo relendo word by word um conto de jamaica kincaid, sonho, projeção, fato: there's no way back home. depois conto.
a poeira dos livros limpo com uma regata velha que nunca foi minha. depois lavo bem a velha camiseta e não sei, me apego a ela. pondero como nunca.

8.8.09

CORDEL DE FOGO na praça do ferreira. Sabe quando acontece da gente jogar basquete e não errar uma cesta, quando você digita uma linha sem intenção e vem um texto completo... Lirinha cantou que ia chover, e assim aconteceu de céu fechar e respingar em pleno agosto enquanto ele fazia cara de eu sou o cara. O povo no limite da catarse com cara de besta. Uma moça apontou pra cima e quis saber de mim o que era aquilo. Eu gritei, ela gritou também, e todo mundo perto só gritava e o que na verdade nos banhava era uma luz azul intensa.

6.8.09

me sinto beckett. gente não dá, até gente querida não tá dando. e finjo aqui e ali que ainda dá, afinal não sou beckett.

4.8.09

quero saber mais do caravaggio. só vi o filme do jarman, e filmes do jarman são tão dele quanto as pinturas do caravaggio são pinturas do caravaggio.
ontem vi o numero 7, gosto dele, pintado na porta do quarto, altura dos olhos, vermelho. vermelho fiquei, acho que me viram olhando o numero. é que gostei do formato, da cor, da simpatia do chagas, do piso antigo estilizado também vermelho, formas concentricas escuras tipo paus do baralho.
se pelo menos eu reagisse menos espectador e mais objeto de arte, sensorial, se pelo menos eu não precisasse ter escrito nem pensando nisso, dormiria melhor.

28.7.09

lanhouse é foda, sempre alguém de olho na tela alheia. Na minha (pronto, o curioso acaba de me deixar em paz). Apenas uma mesa no almoço da rita parecia receptiva e lá eu fui. Oi, você se importa, perguntei. À vontade, ele disse. Passou à perguntinhas clichê introdutórias. E eu, sim, trabalho aqui perto, exatamente, sim conheço ele de vista, não, trabalho aqui 3 dias e volto pra casa.
Cara bonito, apesar do verde vidro das lentes de contato. Outfit brega. Um Márcio. Pediu bisteca de porco. Pedi suco de acerola. Invasão H1N1 truando, não falam de outra coisa. Máscaras por todo canto. Todos histéricos, mais histéricos do que eu. Aquela sensação de estar numa adaptação de Guerra dos mundos e Plano 9 invasão da terra em Nova Jerusalém.
Mas voltando ao cara das lentes, não ando pra bistecas, sei lá, tou só pra prosa. Por isso me despedi dele, Márcio, numa esquina após caminhada por ruas de poeira, meio-dia pleno. Precisava de sabonete. Entrei num boteco, desses de balcão, mercadorias em prateleiras pelas paredes, senhor fumando por trás do balcão imerso na dele. Fumei também depois de dias sem.
Primeiro beijo, nome da fragância do sabonete, que cheira maçã verde. Bisteca de porco e maçã verde, não.

23.7.09

esboço de novela

1997. Aula de literatura brasileira. Mesma cadeira no fundão, mesma mistura de cheiros, gentes, mesma cadência de vozes, dejavu profundo. Até a mancha de sangue permanece no centro da sala de cerâmica antiga, porosa. Sobre o braço da carteira, os rabiscos primatas dos mesmíssimos idiotas que me atazanaram por quase todo o ano passado: Ana Palerma, Ana Sapatão, Ana Baitola, Ana P. Uma horda de maníacos-mirins que me escolheram pra Judas, Geni. Trocaram, porém, de professor. Lui não estava lá.

25.6.09

25/6/2009

Michael morto. Fairy tale terminado. Triste, triste, mas necessário para o fairy tale existir. Não dá pra usar conto de fada. Acaba com o que quero dizer.

Curiosa a entrevista com Annie Proulx, possessiva: ela diz que Jack e Ennis, personagens de Brokeback, pertencem a ela por lei. Fica irritada quando recebe cartas sugerindo enredos alternativos para os personagens. Curiosa porque geralmente os escritores demonstram mais tranquilidade em relação a suas criaturas/criações. Se bem que posso estar enganado. Saramago, Eco, existem muitos como Proulx.

Jack, de A. M. Holmes, não deixou sair da rede hoje.

baba é bom

Bem, não combina muito comigo entrar na onda anti-emo. Dor de cotovelo é uma forma de auto-conhecimento. É bonito quem se permite. Gosto de letras de amor doloridas, coração partido, vaidade escorrendo pro bueiro. Faz um tempo que escuto My Maudlin Career, do Camera Obscura. Lindo. Descobri agora que a dona da voz que canta situações belas e angustiantes tem nome cearense, a escocesa Tracyanne.

23.6.09

guinness

Ontem e hoje em Quixadá tenho vivido algumas quebras de recorde.
O pior chocolate do mundo: marca bel. Horroroso. Pensei que fosse de fora, tipo Guiana, mas é de São Paulo.
A pior cueca do mundo: sem marca, óbvio. Saída de emergência porque não trouxe nenhuma além da que veio no corpo. Dois reais.
O pior docinho de caju do mundo: sem marca. Fibroso, sem gosto, seco arrg. Pra tirar o gosto ruim da boca comprei um serenata. Dentro do bombom veio a seguinte mensagem: Boca seca, taquicardia e tremedeira configuram o que chamamos de amor à primeira vista... blábláblá... é bom pra caramba. Bom pra quem? Essa fase é ruim pra caramba, quase nunca coincide de dois se encontrarem com a mesma vontade. E sempre acontece de um maneirar, segurar, gelar quando vê o outro babando. A mensagem termina: ... sempre que não souber o que fazer em relação a uma mulher, mande flores. Concordo com uma mensagem que li sobre um video do youtube: que mundo emocore jeca! Os anos 90 dão saudade.

21.6.09

zulivre

Um convite num envelopinho azul com seu nome escrito no verso. Nome escrito errado, borrado e escrito certo em seguida. Convite entregue com o borrão. Descuido, mensagem na entrelinha, ou economia (da matéria-prima... do planeta, do tempo da pessoa), não importa o motivo para o borrado, ele quer dizer alguma coisa. A partir de hoje, desaconselho a qualquer um atender a convites borrados. De qualquer jeito, chá de baby é coisa pra quem tem, teve, ou terá baby. No futuro do pretérito é tudo tão óbvio.

Muito melhor ouvir pato fu. Uns mergulhos no mar. Perceber a euforia-alívio-indignação de funcionários de supermercado no fim do expediente de domingo. Conversar com a Cellis, ou qualquer pessoa verde/madura livre do pior tipo de medo, o de si.

20.6.09

escrita

Gostaria de encontrar uma esferográfica definitiva, perfeita. Estou experimentando trilux, faber. Tinta tão clara que se torna incolor no meio da página. A compactor borra com o tempo, pelo menos comigo. Nunca mais usei bic. É comum algum vendedor, caixa, ou recepcionista ter uma bic cristal ou similar com escrita macia que desliza perfeita, tinta azul-escuro impressionante, vivo, como eu gosto, estrutura exterior combalida, mas no todo um verdadeiro sonho. Nunca dão de brinde nem fazem vista grossa caso eu tente me apossar num lapso-reflexo verdadeiro. Falando nisso, as melhores que usei ultimamente são dessas de merchandising, zolper fashion... etc.

18.6.09

A arte de andar de bicicleta

Aula de leitura em prosa inglesa. Abri com Shirley Jackson, The Witch; After You, My Dear Alphonse; e Charles. As horas de um dia inteiro gastas com prazer para elaborar o todo da aula. Resultado: como hoje em dia ninguém mais se detém nesse tipo de brincadeira, mesmo que se entregue os pontos e mostre o detalhe que salva um determinado texto do ordinário, nada brotou da leitura -discussão, aprofundamento, pensamento, inquietação, dúvida, ou incômodo - que serviu apenas para exercício de compreensão. Para variar vibrei sozinho.

Fiquei em outro quarto do hotel essa semana. Maior e pior que o anterior por causa do mofo numa parede. Dentro dele dormi apenas duas noites, ouvindo Chan Marshal. O mesmo quarto que o casal em lua de mel dormiu duas semanas atrás. Dormi na mesma cama de casal que eles dormiram - miseravelmente sozinho, morrisseymente - e só pensei nesse detalhe no instante em que entrei e vi a cama. Depois disso apenas dormi, acordei e fui direto trabalhar.

Percebi nessa semana um aviso dentro do ônibus de ida pra Quixadá com os nomes do motorista e da mulher que serve de assistente. Não sei definir a função dela. Ela vende comida e bebida e cobra passagens de quem sobe no meio do caminho. E informa que estamos num ônibus classe executiva, com menos paradas pelo meio do caminho, e portanto com trajeto mais rápido. Passagem mais cara. Ele se chama Pordeus Carlos. O nome dela esqueci mesmo, mas é desses feitos com dois outros nomes. Cleajane? Janiclea? Esqueci.

Tenho tido sorte de falar com mulheres desconhecidas. Sarah, Jane, Regilídia. Respectivas dentista, esposa de militar, e dançarina. Me sinto como se aprendendo a andar de bicicleta.

3.6.09

5 minutos

Quixadá é aqui. Familiar e estranho. Medina cearense, como todas as outras. Barulho barulho.
Quando entrei no quarto do hotel, ri de surpresa. Pequeno, cama velha de madeira pintada de branco, uma cadeira vermelha de ferro dessas de bar. Um ventilador sem tela. O trinco da porta removível. Um buraco no teto de gesso tapado com sacola de supermercado. Uma janela com um posto de gasolina logo em baixo. Um corredor muito longo com duas aberturas para a construção de mais quartos não concluídos, mas que dá para ver um monólito gigante ao fundo. Um jovem casal gay em lua de mel no quarto ao lado. Ouvi um grito na primeira noite. Alegria, dor, as duas coisas?
O cara da recepção se chama Chagas. Peguei ele duas vezes de surpresa bem extrovertido, molecando com um mecânico, que deve trabalhar no posto. Ao me ver Chagas se fecha.

17.4.09

dançando

Beckett faz parte de uma lista escassa de coisas que vivi na faculdade e que ainda carrego comigo. Ler Esperendo Godot foi um baque. O tipo de leitura que acontece no momento certo. Passada a euforia, depois de conhecer melhor autor e obra, finalmente apareceu a oportunidade de ver a criação no palco. Não é a peça original, que tematiza a expectativa angustiante por algo que não acontece, a chegada de um tal Godot.

ExGodot é um monólogo/performance criado a partir da peça. Eu e uma amiga esperamos bem menos que Didi e Gogo. Após quinze minutos além da hora marcada para o início da apresentação fomos avisados que esta não aconteceria. Falta de público. Um cara com cara de bastidores veio com um papo sobre cortesias para o palco giratório. Perguntou nossos nomes, não anotou, e deu as costas. Tudo muito de acordo, fiquei pensando. Depois vimos por acaso uma apresentação de dança de arrepiar a espinha, Eu Prometo, no dragão de mar. Só consigo fazer analogia com o cinema: nem John Waters, nem Ed Wood seriam capazes.

25.3.09

trilhas

gostei do livrinho o risonho cavalo do príncipe, do josé j.veiga. história teen, contada por narradores teens, demais espertos pra teens. um casal de narradores-personagens, que me lembrou um outro casal de púberes, que não narram nada, são mais personagens-marionetes, do romance pornografia, do gombrowicz. livro pra ser relido.

aderi a onda dos fones de ouvido. eu até antipatizava com a horda de gente padronizada até nisso, mas poder escolher o próprio barulho em fortaleza tem sido mágico. morrissey me acompanhou pelas ruas do centro. roisin murphy perfeita em noites andarilhas. marnie stern sempre. falando em música gostei muito de uma da martinália que vi na tv. não é don't worry be happy, é outra. gostei de ver um verbo conjugado exoticamente pra rimar. ela mudou a flexão e deu super certo. o sentido mudou de leve. esqueci da música, da frase. a procura.

31.1.09

des

noite avermelhada. gripe. não dá pra fumar. não deu pra cantar. deu pra ler teatro. deu pra beber muito chá. dei pra deletar posts depois de perder horas neles. tou quase desistindo. tou quase optando. hoje me apaixonei por uma faxineira. fomos amantes enquanto ela limpava a minha mesa. sabe o amor? acontece quando eu menos espero. ela disse que me conhecia de algum lugar. viajei em segundos. europa central, minas século 18, buenos aires - já estive em buenos aires, basta eu ver o rio de lá que eu sei - data imprecisa, indochina. respondi que não lembrava mas que ela tinha algo de familiar. rosto tímido, recato nos movimentos. hoje vi meu rosto fazer sentido pra um bebê. vi ele criando a noção do meu rosto. ele fez o reconhecimento dos meus traços maravilhado. ele se chama hector. desejei ardentemente poder ver o que ele estava vendo. mas não dá.

21.1.09

carnavao

The Walking Stick Insect

of South America often loses an antenna or leg - but
always grows a new appendage. Often nature makes a
mistake and a new antenna grows where the leg was lost.
-- Ripley's Believe It or Not!
Eventually the
most accident-prone
or war-weary
walking sticks
are entirely
reduced to antennae
with which they
pick their way
sensitevely,
appalled by
everything's
intensity.

Eventualmente os
mais propícios a acidentes
ou cansados de guerra
bichos-pau
são inteiramente
reduzidos a antenas
com que eles
escarafuncham o caminho
sensivelmente
estarrecidos
pela intensidade
de tudo.

dormir pouco me deixa vulnerável a acidentes,
não dormir faz com que eu também seja todo antenas.
tiro cochilos breves, alerta o tempo todo, como uma sentinela.
kay ryan tira inspiração pra escrever após a leitura estimulante de algum grande pensador. ela diz também que extravagâncias na vida acabam por roubar a energia para possíveis estravagâncias da mente. se estiver certa, e acredito que esteja ao menos parcialmente, deve ser essa a razão para o cemitério de textos que cultivo. aqui e ali consigo trazer um texto à tona, à vida, escrito-zumbi. mas tão desregradamente que ainda não juntei quantidade suficiente para um thriller, um filme, o livro. extravagâncias à vista! carnaval-desenganos com tudo que temos direito (pré-carnaval, por exemplo) em um mês.

5.1.09

tou brando


quem resiste à isso
não a beleza máscula
mas a permanência
mesmo incorpórea
mesmo sem garantia
alguma de ser eterna
amanhã?

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